Após a filiação do ex-presidente Jair Bolsonaro, o PL deixou sua vida tradicional de partido médio para se tornar um dos maiores do país. Como contamos mais cedo, depois de eleger 99 deputados federais e abocanhar a maior fatia do fundo partidário (da qual ainda não está usufruindo por conta da multa milionária que lhe impôs o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes), prepara-se agora para passar no ano que vem dos seus atuais 343 para mil prefeitos eleitos. Toda a estratégia acontece dentro dos mapas que traça o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Se não estivesse com suas contas bloqueadas pela condenação de Moraes, o PL já teria encomendado uma pesquisa para aferir o tamanho da perda de capital político de Bolsonaro. O autoexílio de Bolsonaro tem sido a principal dor de cabeça de Valdemar.
Antes do 8 de janeiro, Valdemar ansiava por ter Bolsonaro logo de volta para capitanear com sua liderança de massas o caminho para o crescimento do partido. Os atos golpistas embolaram o meio de campo. O presidente do PL a essa altura já não sabe se é bom ou ruim ter o ex-presidente por perto. De qualquer modo, entende que um líder de massas precisa estar sempre falando com seus seguidores. Do contrário, eles ficam perdidos e frustrados. Hoje, esse é um pouco o sentimento dessa massa bolsonarista.
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Na cabeça de Valdemar, porém, esse dilema do PL, que não sabe em que momento nem de que modo terá de volta o líder de massas que aglutinou a sua possibilidade de crescimento, não é muito diferente do dilema que vive o PT. Há no mapeamento situações que ajudam um pouco, ele acredita, a empatar o jogo.
Se Bolsonaro desapareceu no seu autoexílio na Disney, no caso do PT o problema é a falta de clareza quanto à sucessão de Lula. Até segunda ordem, o presidente não é candidato à sua sucessão. Ele até voltou a fazer acenos no sentido de disputar a reeleição caso não apareça uma alternativa clara. Mas Lula terá 81 anos em 2026. Precisará muito contar com a sua saúde para encarar de fato um projeto de ficar mais quatro anos.
Na avaliação do PL, essa falta de clareza quanto a quem poderá vir a substituir Lula é um ativo a ser explorado. Por exemplo, Lula trouxe para dentro do seu próprio governo a divergência quanto aos rumos econômicos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pensa a economia de um jeito. O ministro da Indústria e Comércio, o vice-presidente Geraldo Alckmin, pensa de outro. A ministra do Planejamento, Simone Tebet, já tem outra linha. E os três são pretensos candidatos à sucessão de Lula. Valdemar aposta que essa divergência pode acabar estourando em algum momento.
Nas avaliações que faz o PL, o partido de Bolsonaro avalia que Lula parece estar com muita pressa em obter resultados em uma conjuntura interna e internacional que não lhe é mais tão favorável quanto era nos seus dois governos anteriores. Acaba com isso falando muito para a sua bolha de esquerda parecendo ignorar que sua eleição apertada foi o resultado de uma composição mais ampla.
O problema de Valdemar é que a trupe de extrema-direita que chegou ao PL com Bolsonaro tem sempre a mesma tendência: falar somente para a sua bolha. E talvez somente o próprio Bolsonaro poderia conter esses extremistas. Mas Bolsonaro segue em Orlando. E não diz a Valdemar quando pretende voltar…