A semana se inicia com o esforço quase cômico de Jair Bolsonaro, o candidato do PL que tenta a reeleição, de tentar descolar o ex-deputado Roberto Jefferson da sua imagem, depois dos absurdos episódios que levaram à sua prisão na noite de ontem. Se alguém a essa altura ainda tiver alguma dúvida sobre de que lado Roberto Jefferson estava basta rever as cenas da própria saída da Polícia Federal da sua casa na cidade fluminense de Comendador Levy Gasparian. Atrás do carro da PF no qual Jefferson seguiu aparece um carro todo cheio de adesivos da campanha de Jair Bolsonaro, que levou advogados e assessores do ex-deputado. Um carro particular de Roberto Jefferson.
A tentativa feita agora por Bolsonaro de tentar se descolar de Roberto Jefferson é típica das estratégias de utilização de táticas da guerra híbrida na disputa política. Bob Jeff, usando aqui o apelido que ele mesmo se deu ao tentar ser candidato à Presidência da República com uma tornozeleira eletrônica plantada no final da sua perna, agiu como uma espécie de sniper de Bolsonaro. E é muito difícil que não tenha agido como atirador de elite do presidente que tenta se reeleger dentro de um jogo combinado. Jogo combinado que agora Bolsonaro tenta evitar porque nada deu certo. Foi tudo uma trapalhada.
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Já dissemos aqui algumas vezes que, dentro da utilização de táticas militares replicadas no jogo político, uma das que mais é usada por Bolsonaro é a tentativa de estabelecer cabeças de ponte. No jargão militar, cabeça de ponte é quando você tenta avançar parte da sua tropa para um ponto no território inimigo. Se o inimigo cede, você se instala ali e segue a partir daquele ponto. Se o inimigo reage, você recua. O momento mais claro de recuo a partir da tentativa de estabelecer uma cabeça de ponte deu-se no Sete de Setembro do ano passado, quando Bolsonaro atiçou seus apoiadores a tentar avançar contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e outras instituições e depois, vendo-se sem força para tanto, recuou com a carta psicografada pelo ex-presidente Michel Temer com um pedido de desculpas.
Bob Jeff, o sniper de Bolsonaro, vestiu-se de Rambo para talvez tentar começar ali o esboço da reação caso os resultados das urnas do próximo domingo sejam desfavoráveis. E não deixa de chamar a atenção que esse primeiro esboço aconteça uma semana antes. Se a ação patética de Bob Jeff é o primeiro ensaio de terceiro turno, é sinal de que os bolsonaristas radicais a essa altura já não acreditem muito na possibilidade de vitória no segundo.
Depois que Jefferson cravou dezenas de balas nos carros da PF e feriu dois policiais, bolsonaristas agrediram o cinegrafista Rogério de Paula, de uma afiliada da TV Globo que cobria o episódio. Talvez dali se acendesse um rastilho de pólvora, se Bob Jeff não tivesse errado pesadamente a mão e cometido uma sequência inquestionável de crimes.
Se poderia haver ainda algum questionamento com a ordem inicial de prisão, a sequência patética trata de retirar qualquer dúvida. Jefferson estava em prisão domiciliar. Ali estava proibido de dar entrevistas ou fazer declarações públicas. Ele não apenas as fez, como cometeu as mais violentas e absurdas agressões à ministra do STF Cármen Lúcia. Falou a respeito dela coisas que não se pode dizer contra qualquer pessoa, quando mais contra uma ministra da Suprema Corte. Mas até aí o bolsonarismo raiz poderia seguir com sua tese maluca de liberdade de expressão a qualquer custo.
Eis, porém, que Bof Jeff, o sniper de Bolsonaro, recebe os policiais que estavam apenas fazendo o seu trabalho com tiros de fuzil e granadas. Ou seja, como um bandido. Como um Marcola. Primeiro crime: resistência violenta à prisão. Segundo crime: desacato à autoridade. Alguém que está em prisão domiciliar não poderia ter arma de fogo nenhuma à sua disposição. Terceiro crime. Ele tinha granadas, armas de uso exclusivo das Forças Armadas. Quarto crime. Atira as granadas contra os policiais. Dois ficam feridos. Dupla tentativa de homicídio: quinto crime. Tudo em flagrante delito, o que autorizava a prisão em qualquer horário, como ocorreu.
Diante da sequência, Bolsonaro tratou de correr para tentar se desvincular de Bolsonaro. Chamou-o com todas as letras de “bandido”. Disse que Bof Jeff não era seu amigo. E tratou de ligá-lo ao episódio do mensalão, no qual de fato foi condenado.
Por mais que o triste estágio da política brasileira venha produzindo eleitores sequelados que preferem viver em uma realidade paralela, desvincular Bof Jeff da tarefa de sniper de Bolsonaro é tarefa impossível. Já há tempos ele assumiu o posto de atirador de elite do candidato à reeleição. Arranjou até um “padre de festa junina” para fazer dobradinha com Bolsonaro no debate final do primeiro turno.
Eis aí o risco para Bolsonaro nesta semana final de campanha. Quando uma tropa recua, é importante que ela não deixe os feridos para trás. Bolsonaro abandonou Bof Jeff. E alguns ressentimentos a partir desse abandono poderão aflorar. No episódio do mensalão mesmo, já foi possível se ver do que é capaz um Bof Jeff ressentido. Para que lado ele vai passar a atirar suas granadas a partir de agora?