Sede do G20 este ano, o Brasil tem a grande oportunidade de mostrar ao mundo suas iniciativas para a transição energética. Segundo a Climate Transparency 2022, o país é o mais avançado com a matriz energética entre as maiores economias do mundo. Com 79% da geração de energia elétrica provenientes de fontes renováveis, o Brasil aparece bem à frente dos Estados Unidos, que têm 21%.
Nas tratativas do encontro, que será realizado em novembro no Rio, o país defende a criação de padrões internacionais que reconheçam o valor da biomassa e dos biocombustíveis. A descarbonização dos transportes e a redução da emissão de gases do efeito estufa viraram um dos maiores desafios atuais da humanidade.
O Congresso Nacional também tem avançado na definição de políticas para o uso de fontes renováveis, como o etanol. Recentemente aprovado pelo Senado, o PL do Hidrogênio Verde exemplifica a necessidade de políticas de baixa emissão de carbono. O texto relatado pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) cria o Programa Nacional do Hidrogênio; Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC); o Sistema Brasileiro de Certificação do Hidrogênio; e o Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (Rehidro).
Já na Câmara o debate sobre a transição energética se refletiu na aprovação do PL do Combustível do Futuro, em março deste ano. A proposta cria os programas de biocombustível sustentável para aviação e o Programa Nacional de Diesel Verde, e estabelece em 35% o limite máximo de etanol na gasolina, como estratégia para aumentar a octanagem do combustível brasileiro, induzindo um novo ciclo de aprimoramento de motores de combustão interna.
Desde março de 2003, a partir do lançamento dos veículos flex, até dezembro de 2023, o consumo do etanol foi responsável pela redução na emissão de gases de efeito estufa (GEE) em mais de 660 milhões de toneladas de CO2eq, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).
Com esse impacto significativo na descarbonização do transporte, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), 41,3% dos veículos leves têm energia gerada pelo etanol, novas opções também surgem no mercado automotivo, como os veículos híbridos-flex. Com a combinação entre o elétrico e o etanol, incentiva-se a redução nas emissões de gases e a ascensão da mobilidade verde, sustentável e limpa no país.
PublicidadeAlém dos benefícios ambientais do uso do etanol como combustível, o setor sucroenergético também representa um importante papel na economia do país. Atrás apenas da carne e da soja, as exportações de açúcar e etanol foram o terceiro segmento mais exportado pelo agronegócio brasileiro entre abril de 2023 e março de 2024. Ao todo, o setor movimentou mais de US$ 100 bilhões em valor bruto.
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, principal matéria-prima do etanol, com cerca de 716,4 milhões de toneladas processadas na última safra (2023/2024). A região Centro-Sul responde por 91,3% desse total. Em relação ao etanol, o país é o segundo maior produtor do combustível no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Na safra 2023/2024, atingiu volume de 35,9 bilhões de litros.
Essa cadeia produtiva cresce cada vez mais. Em maio deste ano, a venda do combustível pelas unidades do Centro-Sul totalizou 1,87 bilhão de litros, maior marca nos últimos 42 meses. “O volume comercializado no último mês representa o maior valor registrado pelas unidades do Centro-Sul desde outubro de 2020, quando foram vendidos 1,88 bilhão de litros”, explica Luciano Rodrigues, diretor de Inteligência Setorial da Unica.
De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), o SAF pode contribuir com cerca de 65% da redução de emissões necessária para o transporte aéreo atingir a neutralidade de CO2 em 2050.
Descarbonizar o transporte marítimo também é crucial para evitar um aumento proporcional de suas emissões. Esse setor responde por 2% a 3% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2021, totalizando 840 milhões de toneladas de CO2 de viagens marítimas internacionais e domésticas. Essas emissões estão principalmente ligadas ao uso de bunker fuel e marine gasoil, que constituem 4% da demanda global de combustíveis fósseis em 2018.
Com todo esse potencial, a cadeia do etanol também produz impactos sociais. É responsável pela geração de mais de 730 mil empregos formais diretos. Indiretamente, o setor da cana-de-açúcar tem mais de 2,2 milhões de pessoas empregadas, seja nas 345 unidades produtivas do país ou na produção independente, que tem cerca de 70 mil fornecedores. Além de ser uma solução brasileira já pronta para descarbonização da mobilidade e para a transição energética, o etanol traz renda e desenvolvimento para sua população.