Entre os inúmeros casos notórios de violência política contra a mulher ocorridos recentemente, vimos com incredulidade a tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que no último dia 1º teve uma arma apontada para sua cabeça, por um homem brasileiro radicado em Buenos Aires.
Isso nos faz refletir o quanto, para as mulheres, decidir por uma carreira na política exige determinação e, até certo modo, coragem. Segundo dados da ONU, as mulheres que entram na política estão entre as que mais sofrem violência de gênero. De acordo com o levantamento, 82% das mulheres em espaços políticos já foram vítimas de violência psicológica; 45% sofreram ameaças; 25% passaram por violência física no espaço parlamentar; e 20% sofreram assédio sexual. Diante desse quadro, 40% delas afirmam que tiveram sua agenda legislativa atrapalhada, por conta desses atos machistas e misóginos.
Aqui no Brasil, o quadro é tão revoltante quanto no resto do mundo. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Política de Saia, em parceria com o Projeto Justiceiras, revela que 51% das mulheres envolvidas no ambiente político já foram vítimas de preconceito ou discriminação. Entre as violências mais relatadas estão ofensas morais, xingamentos, exclusão de algum espaço público, ameaça, ataque sexual, fake news, agressão física e invasão de redes sociais.
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Os casos de desrespeito e agressão no meio político se tornaram tão corriqueiros que atingem até mesmo mulheres que, apesar de não exercerem cargos públicos, estão de certa forma ligadas ao meio, por causa da profissão. É o caso da jornalista Vera Magalhães, agredida pelo deputado Douglas Garcia, quando participava de um debate entre candidatos ao governo de São Paulo, realizado pela TV Cultura.
Diante das estatísticas, fica claro que a violência política de gênero é uma realidade, SIM, e ao se sentirem acuadas por atos desse tipo, muitas mulheres, simplesmente, desistem de atuar no meio.
Isso não pode acontecer, especialmente agora que estamos em um momento tão decisivo para a democracia brasileira! Não podemos ficar de braços cruzados assistindo às mulheres serem xingadas, diminuídas e ameaçadas porque pretendem exercer um cargo público.
Notícias de ataques e ameaças a candidatas e candidatos não devem, sob nenhuma hipótese, ser encaradas com naturalidade, pois a banalização da violência política alimenta a barbárie. A política começa pelas nossas ações. Quando vemos escancarados tantos exemplos de desrespeito, percebemos que há pela frente muito trabalho, ainda, para mudar a realidade da violência, em especial a de gênero, no país.
É preciso denunciar o discurso de ódio e a violência de gênero. Para tanto, se faz necessário o envolvimento de todos. Mais do que nos posicionarmos, precisamos avançar nessa discussão, acreditar nas vítimas, responsabilizar os culpados e encontrar formas de melhorar as políticas públicas para as mulheres.
E uma maneira de conseguir isso é, justamente, tendo mais mulheres na política. As mulheres não podem mais aceitar calada o assédio, o machismo e a misoginia. A política é uma ferramenta de diálogo, um espaço de respeito e valor. Quanto mais valorizarmos a diversidade nesse meio, mais estaremos contribuindo para mudar a nossa sociedade.
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