Enquanto circulava pela Praça dos Três Poderes, na noite de quarta-feira (13), Francisco Wanderley Luiz interagiu com uma repórter da TV Brasil momentos antes de detonar explosivos em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). A jornalista Manuela Castro se preparava para entrar ao vivo no programa Repórter Brasil, quando foi abordada pelo homem que, minutos depois, morreria no atentado. Francisco chega a aparecer ao fundo da transmissão, caminhando com um guarda-chuva em direção ao STF. A repórter relatou o episódio e o risco que ela e sua equipe correram durante a transmissão do telejornal na noite dessa quinta-feira (14).
Assista ao relato de Manuela e a imagem em que o autor do atentado passa por trás dela em frente ao STF:
“Nós estávamos ali na Praça dos Três Poderes, que agora está totalmente cercada, sem acesso. Nós estávamos muito próximos ali ao local das explosões, minha equipe e eu, estávamos nos preparando para entrar ao vivo no Repórter Brasil quando o homem se aproximou, ficou realmente do nosso lado. Isso não é incomum, normalmente turistas, curiosos se aproximam de equipes de reportagem, querem tirar foto, observar. Mas ele estava muito perto da gente. A gente começou a trocar olhares, ele percebeu e falou ‘olha, não vou atrapalhar vocês, não. Fiquem tranquilos, vou passar por trás da câmera’”, contou a jornalista, ao relatar o risco que ela e outras pessoas que passavam pelo local na hora correram. “E depois falou ‘eu não vou passar na frente da câmera porque eu sou muito feio’. E ficou ali por perto rondando.”
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“Na hora que nós entramos ao vivo, é possível ver aí nas imagens que logo que eu entrei ao vivo, ele foi para trás de mim, um pouco mais afastado, mas foi possível vê-lo nas imagens e eu tive certeza que era ele mesmo. Hoje (na quinta, 14) eu tive essa certeza, porque o que me chamou atenção no Francisco é que ele estava com uma calça colorida. E essa calça ficou registrada na minha memória. Hoje, quando eu vi as imagens do circuito interno do STF que mostraram o corpo no chão e eu vi a calça, aí tive certeza que realmente era aquele observador que ficou tão próximo da gente”, relembrou Manuela. “Aí tive noção do do perigo, do risco que eu e minha equipe tivemos ali com aquele homem tão próximo, com aqueles explosivos na cintura. Fiquei muita assustada quando descobri que era ele. Ainda bem que não aconteceu nada nem comigo nem com a equipe”, disse a repórter.
Explosivos
Segundo a Polícia Federal (PF), Francisco Wanderley Luiz, dono do veículo e autor dos ataques, residia há poucos meses em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal, a pouco mais de 25 quilômetros da Praça dos Três Poderes. As equipes da PF fizeram perícia no local em que o homem morava e encontraram muitos explosivos, inclusive em uma gaveta aberta por um robô antibombas que gerou uma explosão “gravíssima”, de acordo com o diretor-geral Andrei Passos.
A fabricação dos explosivos era artesanal, mas de “alto grau de lesividade”. Francisco portava um extintor carregado com gasolina, como uma espécie de lança-chamas. “Essa pessoa já esteve em outras oportunidades em Brasília. Inclusive, segundo relatos de familiares, estava aqui em Brasília no começo do ano de 2023. Ainda é cedo dizer se houve participação direta nos atos de 8 de janeiro, isso a investigação vai mostrar”, observou Andrei Rodrigues.
O homem também alugou um trailer próximo do carro com explosivos no anexo 4 da Câmara. No local, a PF encontrou mais artefatos e o celular do autor do atentado. Sem entrar em detalhes, o diretor da corporação declarou que foi encontrada uma caixa durante a perícia. Natural de Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí, a 200 km de Florianópolis. Nos últimos meses, segundo um dos irmãos dele, Francisco se afastou dos familiares e estava obcecado com política nos últimos anos e destilava ódio.
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