Luís Antonio Cajazeira Ramos *
A gente ouve e lê nas mídias e redes sociais que os militares têm sido tolerantes e até coniventes para com aquelas pessoas que, acampadas sob sol e chuva em frente a diversos quartéis Brasil afora, bradam em fúria contra a vitória eleitoral de Lula e suplicam por uma intervenção militar, fazendo aqui e ali incursões violentas e mesmo incendiárias, tudo flagrantemente fora da ordem democrática e do estado de direito. Será que há mesmo tolerância, conivência ou simpatia dos militares? Eu vejo que o buraco é mais embaixo: há iniciativa e participação.
Os que surgem estritamente de fora dos quartéis talvez sejam apenas a parcela chã desse exótico rebanho em firme vigília. Um outro grupo dessas pessoas, se não a maior parte delas, ao menos a porção mais pensante e organizada e articulada, principalmente nos primeiros dias do movimento golpista, era uma numerosa fração daqueles que possuem vínculos com os quartéis: dos próprios aquartelados, tanto da ativa quanto reformados, distribuídos verticalmente por toda a estrutura corporativa das forças armadas e das polícias e seus assemelhados (inclusive milícias fardadas), acompanhados de seus cônjuges, de seus filhos e de outros parentes e agregados.
Leia também
Suas motivações não eram somente a ideologia totalitária da extrema-direita que lhes foi servida pelas escolas militares, por sua vida na caserna e pelo capital fascista nacional e internacional. Ou nem somente os princípios conservadores e intolerantes alimentados pela família, pela igreja e pela corporação. Também não é somente uma percepção equivocada de que deva competir aos militares o exercício de um poder moderador na estrutura republicana, para o controle da ordem social, servindo como ponte sólida para o poder ditatorial por tantos almejado e alopradamente defendido pelos manifestantes. A motivação era tudo isso, sim. E mais que isso.
Embora esse movimento golpista na frente dos quartéis esteja servindo aos interesses do grupo que pretende continuar a exercer o comando da extrema-direita nacional, creio que o que mais motivou a tropa foi algo mais mesquinho, mais vulgar: o vil metal. O que moveu os articuladores fardados de tal protesto foi uma pulsão reativa, preventiva e intimidativa com vistas a defender a bisonha e imoral usurpação militar de milhares de cargos comissionados, e bem remunerados, da estrutura civil do estado brasileiro, os quais lhes foram graciosamente cedidos pelo estúpido ocupante do Palácio do Planalto, comandante do Q.G. do ódio e do desejado golpe. Mas eu espero que, em tudo, o tiro saia pela culatra.
* Luís Antonio Cajazeira Ramos é funcionário do Banco Central, líder sindical, poeta e membro da Academia de Letras da Bahia.
PublicidadeO texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Um mês depois, QG do Exército segue rodeado de golpistas, em número até maior