Como primeiro teste para uma terceira via, os protestos do domingo (12) mostraram que ainda há um longo caminho para que o centro e a direita construam um nome capaz de fazer frente a Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Lula. Caminho esse que passa, inclusive, pela capacidade de mobilização de militância.
Ao contrário do que ocorreu em 2016, os atos convocados pelo MBL, Vem pra Rua e pelo Livres resultaram em fotos esvaziadas de público e com baixa adesão de congressistas. Parlamentares e políticos ouvidos pelo Congresso em Foco fazem avaliações diferentes sobre o que aconteceu, mas concordam que o maior desafio para construção da tão propagada “frente ampla” é o diálogo.
De acordo com uma liderança de centro-esquerda que optou por falar em reserva, a falta de consenso entre a oposição foi o principal fator para afastar os parlamentares que fizeram um cálculo político “frio” e escolheram não participar. Outro aspecto, acrescenta, esteve na convocação do ato por movimentos alheios às lideranças políticas tradicionais. “O domingo mostrou a dificuldade de uma terceira via. Mas creio que o principal problema [que causou o esvaziamento] foi ser um ato convocado por movimentos e não por partidos, o que tem uma consequência e mostra essa dificuldade de mobilização da direita não bolsonarista”, comentou.
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Vice-líder do PSD na Câmara, o deputado Fábio Trad (MS) também entende que “a forma” como o ato foi concebido gerou esse esvaziamento, apesar de ter considerado a manifestação positiva. “Eu me preocuparia se esse esvaziamento fosse em virtude da causa, mas não foi. A causa em si une a grande maioria dos brasileiros, que é o não ao Bolsonaro com críticas ao governo dele. Mas o esvaziamento se deu em virtude de aspectos políticos relacionados à forma. A oposição está dividida. Uns pensam em Lula, outros que há de haver outras vias e há um ressentimento do PT pela postura do MBL e do Vem pra Rua”.
De acordo com o parlamentar, porém, independente do saldo do domingo, “um nome de terceira via existe e é real”. Ele defende que os atuais nomes postos se exponham, como fizeram no dia 12, mas também que as conversas e articulações sejam intensificadas. “Precisamos intensificar os debates, massificar a exposição e procurar na medida do possível manter sempre juntos esses nomes para que a população tenha mais possibilidade de identificar quem é capaz de integrar mais. Não é possível ter receio de se expor agora”, completou.
O PSD tem trabalhado para viabilizar a candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, atualmente no DEM. A sigla chegou a fazer um convite formal para que o parlamentar se filie, mas ele ainda não respondeu. Pacheco ainda avalia os efeitos de uma eventual fusão entre o DEM e o PSL. Pouco a pouco, Pacheco, que foi alçado ao comando do Senado com a bênção do presidente da República, Jair Bolsonaro, dá sinais mais evidentes de que tem gostado da ideia de sair candidato e aumentado o tom, ainda que ao estilo mineiro, sobre as escaladas de Bolsonaro contra a democracia e independência entre os poderes.
O DEM, porém, mantém o olhar sobre o ex-ministro da Saúde Luís Henrique Mandetta, que participou dos atos deste domingo em São Paulo.
Mandetta foi um dos possíveis presenciáveis a discursar no ato em São Paulo. Além dele, também tiveram tempo de fala Ciro Gomes (PDT), a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
PT e Psol
No sábado (11) o PT e o Psol divulgaram uma nota na qual afirmam que, mesmo “com o interesse comum de oposição a Bolsonaro” não iriam participar das manifestações do 12 de setembro. “Saudamos todas as manifestações Fora Bolsonaro, esclarecendo que o PT não participou da organização nem da convocação de ato que já estava marcado para este domingo, 12. Reafirmamos que o PT luta contra Bolsonaro, seu governo e suas políticas neoliberais, vinculando sempre a luta pelo impeachment a luta pelos direitos do povo brasileiro”, consta no documento.
No domingo, na Avenida Paulista, o MBL inflou um boneco gigante na qual aparecia a imagem de Lula vestido de presidiário e abraçado com Bolsonaro usando uma camisa de força. Durante a semana, integrantes do movimento e políticos que prometiam participar dos atos repetiam a frase “nem Lula, nem Bolsonaro”.
De acordo com o líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (RS), os protestos do domingo tiveram um foco desvirtuado, o que afastou a esquerda tradicional. “O foco de ontem era a terceira via e eles colocaram a crítica de Bolsonaro e Lula no mesmo nível. Nossa preocupação agora é nos organizarmos para o início de outubro em um ato que unifique o país e a esquerda e com programa e pelo impeachment de Bolsonaro”, comentou.
Ainda de acordo com ele, existe espaço para a construção de uma frente ampla, desde que o diálogo afine as estratégias. “Pode ter o compartilhamento de palanque, mas esse não era o objetivo do MBL. Todos os que vierem para a rua para dizer fora Bolsonaro estão juntos”, acrescentou.
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