Há uma possiblidade clara de mais de 20 milhões de eleitores serem defraudados da possibilidade de votar em sua candidata presidencial preferida: Marina Silva.
Não tenho muitas ilusões caso o TSE siga o raciocínio ditado pela cultura cartorial vigente. A Rede ultrapassou confortavelmente o número mínimo de assinaturas coletadas. Faltam-lhe algo como 50 mil validadas. É visível que aproximadamente 100 mil foram invalidadas erradamente. A prática dos cartórios eleitorais de usar para a conferência as fichas de presença do pleito mais recente e não os registros originais – um expediente de preguiça burocrática – faz com que automaticamente sejam excluídos todos aqueles que não votaram na última: viajantes, idosos, jovens entre dezesseis e dezoito, eleitores que apenas rubricaram a lista ou cuja assinatura não ficou idêntica. Por outro lado houve atraso na conferência para além dos 15 dias legalmente obrigatórios.
Com base nisso seria justo e razoável validar as assinaturas recusadas reapresentadas pela Rede. Não há como reconferi-las uma a uma a tempo mas uma amostragem ilustra claramente que, se isso pudesse ser feito, elas seriam validadas. Mas como ouvimos em tantos trâmites burocráticos desse país de herança pombalina – durante meu últimos anos de exílio, em Lisboa, descobri de onde vem tudo isso – é provável que a resposta seja: “Lamentamos muito mas vocês perderam o prazo”.
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Pouco importa que exista um tempo político quando se quer fazer algo diferente do que está aí. O Brasil passa por um processo contraditório com potencial para algumas mudanças e não é impossível que uma maioria no TSE deixe de seguir o caminho burocrático traçado pelo parecer do Ministério Público. Vai ser necessário a maioria dos ministros ter um olhar que transcenda o cartório e aviste a sociedade. Pode acontecer, quem sabe?
Perguntam-me qual o “plano B”. Quem conhece Marina sabe perfeitamente que não é nada evidente que haja. Especulam na mídia em torno de alternativas grotescas em relação as quais não há a menor chance. Outras, que serviriam para lideranças de um tipo mais convencional, no caso parecem improváveis pois seria de certa forma cair no jogo da política tradicional.
Pessoalmente sempre achei que a única alternativa aceitável seria o PV revertendo um processo de equívocos mútuos – catastróficos – embora totalmente justificado, eticamente, do ponto de vista de Marina.
Mas não vejo praticamente a menor chance disso acontecer, ainda que lideranças importantes como Gabeira, Zequinha e Aspásia defendam-no com afinco. Há ali um ódio dominante, um rancor profundo, recalcado. E da parte dela uma altivez teimosa, turrona.
A coisa é tão arraigada que há poucos dias eles se reuniram “informalmente” para deliberar que não terei “legenda” pelo PV se desejar me candidatar à reeleição.
Fundador do partido, redator do seu programa e manifesto, presidente nacional por oito anos, candidato a presidência, em 98, e junto com Gabeira a principal referência histórica e internacional dos verdes brasileiros, serei “cassado” da possibilidade de disputar um novo mandato – se assim o quiser, ano que vem – pelo PV, por criticar a perpetuação da atual direção e por ter permanecido solidário com Marina e com nossos 20 milhões de eleitores, mesmo eventualmente discordando dela em alguns aspectos.
Por uma questão elementar de decência vou solicitar-lhes que pelo menos formalizem essa decisão de me negar “a legenda”. Assumam-na publicamente! Coloquem no papel. É o mínimo, não é?
Assim é a política brasileira: cartorial, personalizada, clientelista e rancorosa. E outas cositas mais…