O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva só tomará posse do governo daqui a onze dias. Mas, por incrível que pareça, o que já rola nos bastidores e vem entravando o anúncio dos ministros do novo governo é a sucessão de Lula, coisa que só acontecerá daqui a quatro anos. Oficialmente, Lula até agora só anunciou cinco ministros, e outros nomes depois disso vêm sendo vazados, o que parece ser uma estratégia talvez para voltar atrás depois em caso de necessidade. Mas, sabendo-se que o futuro governo terá 37 ministérios e toma posse a menos de duas semanas, é ainda bem pouco o que se sabe sobre ele.
De acordo com uma fonte que nas últimas semanas participou da equipe de transição, o tempo todo tem havido no meio das discussões um sentimento velado, que virou mais um elemento de dificuldade para Lula na montagem do seu governo. O sentimento parte da certeza de que o próximo será um governo de transição para um novo momento. Por diversos motivos.
Transição porque Lula tem 77 anos de idade. No dia 27 de outubro do ano que vem, fará 78. Quando acontecerem as próximas eleições, terá 81. Ou seja: Lula não será candidato à sua reeleição em 2026. A próxima eleição marcará, assim, o momento em que o principal político desde a redemocratização (Lula só não disputou as eleições quando não pôde e em todas as vezes ou ganhou ou foi o adversário mais competitivo) estará fora da disputa. Abre-se, portanto, espaço para o surgimento de um novo nome na política brasileira. Eis aí o busílis: os candidatos a serem esse novo nome ensaiam as suas pretensões. E entravam as escolhas agora de Lula.
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O grande problema é que, pelo próprio comportamento de Lula, o PT não foi capaz de construir uma alternativa para sucedê-lo. Em vários momentos, porque Lula cortou pretensões (como Luiza Erundina, Cristovam Buarque ou Eduardo Suplicy). Ou porque possíveis candidatos ficaram pelo caminho, tolhidos pelo mensalão ou pela Lava Jato (José Dirceu, Antonio Palocci). E porque o único nome no qual Lula apostou no passado acabou sofrendo processo de impeachment, Dilma Rousseff.
Assim, a sucessão de Lula é um caderno em branco. E não falta gente agora querendo preencher as páginas. E o problema para o PT é que o partido de Lula não vai bem nessa disputa. Em 2018, apostou-se em Fernando Haddad. Mas ele perdeu a disputa para Jair Bolsonaro. Complica a sua vida o fato de ter perdido de novo este ano a disputa pelo governo de São Paulo para Tarcísio de Freitas. Haddad assume um ministério, o da Fazenda, que não costuma ser bom porto para se lançar a uma candidatura à Presidência. O país deverá viver momentos de crise. E Haddad não terá um plano Real na manga, que garantiu a alavancagem de Fernando Henrique a partir da pasta.
Outros nomes do PT – Jaques Wagner, Wellington Dias – não parecem ter a mesma força. Cresce, então, a possibilidade de um parceiro próximo. Flávio Dino, do PSB, que assumirá o Ministério da Justiça? No caso, avalia-se que há aí uma prevalência: o vice-presidente Geraldo Alckmin.
Para essa fonte, está aí o primeiro perigo para o PT. O outrora adversário de outras eleições, um nome de perfil conservador, seria neste momento o nome de maior visibilidade para suceder Lula.
Mas, apesar dessas características, Alckmin ainda seria alguém trazido para o mesmo campo. Para além dele, há um outro nome que aí já nem do mesmo campo seria: a senadora Simone Tebet, do MDB do Mato Grosso do Sul.
Assim, não é surpresa a dificuldade aparente para anunciar Simone no Ministério do Desenvolvimento Social.
O próximo governo é resultado de uma soma ampla de forças. E elas já começaram a disputar. Lula ainda nem é presidente. Mas o jogo já é em torno do próximo.