Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o novo presidente da República. Na eleição mais disputada da história do país desde a redemocratização, o petista derrotou Jair Bolsonaro (PL) por um placar apertado, uma diferença de aproximadamente 2 milhões de votos. Lula teve 50,90% dos votos válidos contra 49,10% de Bolsonaro. O petista teve 60.345.999 votos e o presidente derrotado 58.206.354. Já no domingo (30), Lula fez um pronunciamento no Hotel Intercontinental, na região central de São Paulo. Bolsonaro preferiu o silêncio.
Três dias depois de completar 77 anos, o pernambucano radicado em São Paulo desde a infância é o primeiro brasileiro a se eleger presidente da República pela terceira vez. Depois de dois mandatos consecutivos, entre 2003 e 2010, o líder do Partido dos Trabalhadores renasceu das cinzas após passar 580 dias preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (PR), condenado em duas instâncias em processos da Operação Lava Jato.
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O ex-presidente foi solto em novembro de 2019, depois que o Supremo Tribunal Federal passou a considerar a prisão em segunda instância inconstitucional. Em seguida, o Supremo anulou as condenações contra ele, após constatar diversas irregularidades no curso do processo conduzido pelo então juiz Sergio Moro na Lava Jato. Está hoje livre de pendências na Justiça. Herdará um país com cenário bastante diferente daquele que recebeu em janeiro de 2003. Um Brasil dividido e mais hostil ao seu grupo político, após quatro anos de governo Bolsonaro.
Lula volta ao Planalto tendo como vice o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, do PSB, seu adversário no segundo turno da eleição de 2006. A aliança faz parte do amplo leque construído pelo petista para derrotar o bolsonarismo, com PT, PCdoB, PV, Solidariedade, Psol, Rede, PSB, Agir, Avante e Pros. Decisivo também foi o apoio de artistas e personalidades de vários setores, alguns inclusive em geral avessos a assumir publicamente posições políticas e outros em geral associados ideologicamente ao centro e à direita. A estratégia deu certo: diferentemente das duas vitórias anteriores, Lula se elegeu agora pela primeira vez em primeiro turno. Foi a primeira vez em que um candidato petista conquistou tal façanha.
Filho de um casal de lavradores que migraram de Caruaru (PE) para São Paulo quando ele ainda era criança, Lula começou sua trajetória como metalúrgico e sindicalista. Durante a ditadura militar de 1964/1985, liderou grandes greves de operários no ABC Paulista e ajudou a fundar o PT, em 1980, durante o processo de abertura política.
Foi também uma das principais lideranças do movimento Diretas Já, no período da redemocratização, quando iniciou sua carreira política. Elegeu-se em 1986 deputado federal por São Paulo com votação recorde. Em 1989, concorreu pela primeira vez à presidência da República, perdendo no segundo turno para Fernando Collor de Mello.
PublicidadeCandidato a presidente outras duas vezes, em 1994 e em 1998, perdeu no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Venceu a eleição presidencial de 2002, derrotando o tucano José Serra no segundo turno. Na eleição de 2006, foi reeleito ao novamente vencer o PSDB no segundo turno, desta vez contra Geraldo Alckmin. Em 2010, fez sua sucessora, Dilma Rousseff, que se reelegeria quatro anos mais tarde, mas sem concluir o mandato, após sofrer processo de impeachment em 2016.
Os dois mandatos de Lula foram marcados por crescimento econômico e pela consolidação de programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, mas também por muitas denúncias de corrupção. Em 2005, o então presidente enfrentou o escândalo mais marcante de seus dois governos, o mensalão. O processo resultou na condenação de vários de seus aliados, como os petistas históricos José Dirceu e José Genoino, além de aliados que hoje estão com Jair Bolsonaro, como Valdemar Costa Neto, do PL, e Roberto Jefferson, do PTB.
Quando muitos acreditavam que seu mandato seria cassado em processo de impeachment naquele ano, Lula deu a volta por cima. Reelegeu-se para mais quatro anos de mandato. Deixou o Palácio do Planalto, em janeiro de 2011, ostentando os maiores índices de aprovação de um presidente da República: 84%, segundo o Ibope, em dezembro de 2010.
Depois de sobreviver à fome, a derrotas políticas e à prisão, Lula está de volta ao topo da política brasileira. Terá pela frente o desafio de pacificar um país carcomido pelo ódio e pela violência política, além de afetado pelos profundos efeitos econômicos causados pela guerra na Ucrânia e pelas despesas federais feitas para enfrentar a pandemia.
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