Há algumas semanas, um processo disciplinar foi aberto contra um policial rodoviário federal que manifestou apoio ao agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas suas redes sociais. Somente alguns dias antes de o próprio diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, publicar nas suas redes sociais uma mensagem de apoio a Jair Bolsonaro, do PL, derrotado na sua tentativa de reeleição.
Silvinei depois apagou a postagem. Mas o fato não diminuiu o clima de revolta de parte da corporação, dividida entre o ativismo político e a tentativa de manter a neutralidade necessária para não comprometer a imagem da instituição. “É inegável que uma parcela do efetivo é bolsonarista”, admite um policial rodoviário federal, na condição de anonimato para não sofrer represálias. “Mas a maioria está enraivecida com essa utilização política que desmoraliza a instituição”, continua.
“A Polícia Rodoviária Federal não é um braço armado do bolsonarismo, e não vai aceitar isso”, continua ele.
De acordo com ele, o bolsonarismo dividiu a corporação, como aconteceu também na Polícia Federal. “E uma parte da administração fica querendo mostrar esse ativismo político”, reclama. “Os ânimos se inflamam, e tudo acaba ganhando uma proporção que não deveria”.
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Dimensão política
Ele exemplifica com a própria operação ocorrida no dias eleições. “Sempre houve operação desse tipo”, afirma. “Aí, uma coisa rotineira ganha dimensão política desnecessariamente”.
Porque, segundo o policial, parte do efetivo, motivada pelo ativismo político, acabou indo para a operação com o propósito mesmo de barrar grupos de eleitores do PT ou criar dificuldades para que chegassem aos seus locais de votação.
De novo agora, segundo o policial, desde o início dos bloqueios de caminhoneiros nas estradas do país, o efetivo trabalha para fazer a desobstrução. “É, de fato, uma coisa que precisa ser feita com cuidado”, ressalta. “Primeiro, porque o efetivo é pequeno. Segundo, porque há mesmo um clima de beligerância que é preciso evitar. Não dá para chegar com força, dando tiro, senão termina em tragédia”.
“Mas, por outro lado, há, sim, ações e manifestações lamentáveis de alguns colegas”, reconhece. “Posicionamentos absurdos”. Segundo o policial, “a maioria do efetivo está ralando, querendo fazer bem o seu trabalho”.