Há um equívoco recorrente que contamina a análise política. É a falsa impressão de que a esmagadora maioria da população faz da política o centro de suas vidas. Nada mais distante da realidade. As pessoas, em geral, concentram suas energias na busca de melhoria na qualidade de vida de suas famílias, na educação e formação dos filhos, na busca de avanços no emprego, no lazer com amigos. Não que desvalorizem a política. Ao contrário, sabem que a qualidade dos governos, da representação política e das instituições é determinante para sua felicidade pessoal e para o sucesso do país. Mas o grau de mobilização social e o nível de informação são menores do que supõe nossa vã filosofia. A dinâmica da opinião pública e o envolvimento da sociedade obedecem a uma lógica pendular, alternando picos de mobilização e vales de calmaria, quase indiferença.
A maioria da população é extremamente pragmática. Não é escrava de rígidos modelos ideológicos. Preza alguns valores fundamentais como a ética, a solidariedade e o trabalho. Decide as eleições nas semanas que as antecedem pela intuição sobre qual é o melhor caminho, a partir das informações concentradas recebidas no próprio processo eleitoral.
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A ansiedade e a precipitação ficam a cargo dos políticos, dos articulistas e jornalistas, dos cientistas sociais e das discussões de bar entre palpiteiros e apaixonados.
Mas é preciso reconhecer que a sucessão presidencial de 2014 se precipitou. Foram Dilma, Lula e o PT, temerosos do desgaste acumulado de Dilma e do crescimento do “volta Lula”, que botaram o bloco na rua.
Isso num momento em que a inflação ameaça, o déficit comercial bate recorde, a taxa de juros sobe, o endividamento das famílias consome metade da renda, a indústria vai pelo ralo, a credibilidade da economia brasileira se abala e o PIB tem desempenho medíocre. Essa é a verdadeira agenda de 2013.
No entanto, vale analisar com lupa os resultados da última pesquisa Datafolha. A avaliação de Dilma teve sua maior queda, despencando 8%. As expectativas da população em relação à economia, à inflação e ao desemprego se deterioram.
Mesmo tendo ocupado todos os programas do PT e convocado abusivamente 13 cadeias nacionais de rádio e TV, nos últimos dois anos e meio, Dilma perdeu sete pontos nas intenções de voto. Aécio cresceu 4%.
Hoje o que assistimos é quase um monólogo. É desproporcional a presença de Dilma na mídia. O jogo mal começou. O contraponto não é feito com a intensidade necessária. O diálogo ainda não se estabeleceu. Não há só uma forma de se ver o Brasil e o futuro.
Quando o tempo certo chegar, o debate se estabelecerá diante de uma opinião pública mais atenta e apta a comparar ideias e propostas. Aécio, Eduardo, Marina, Randolfe e quem mais chegar quebrarão o monólogo e conversarão com a população em bases mais democráticas.
E aí, é inevitável, as fragilidades de Dilma e seu governo virão à tona. Quem viver verá.
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