Sabe aquele ditado que diz: “mata a cobra e mostra o pau”? Muitas pessoas ainda acreditam na ilusão de que mostrar o pau, prova que a cobra morreu, quando, na verdade, a prova de que a cobra morreu é a própria cobra morta.
O Brasil está chegando a mais um importante processo eleitoral, onde a inversão de fatos e a mentira estão influenciando uma massa de eleitores que não checam as informações para saberem se são verdadeiras. Assim como há séculos se sabe que em uma guerra, quem morre primeiro é a verdade, o mesmo está se vivendo em várias partes do mundo com as eleições.
A lamentável propagação da mentira segue espalhando desinformação, tendo um líder populista como porta voz, que promove guerras culturais, explora preconceitos, propaga o ódio, o medo, a insegurança, a inversão de valores e princípios democráticos, cristãos e humanitários.
Diante disso, nunca se precisou tanto de “Tomés” que pudessem ter a coragem de tocar com os seus dedos, nas chagas da mentira: sim, ela é real, está viva e interfere sobre o seu modo de pensar, agir e votar. O descaso pelos fatos reais, a substituição da razão pela emoção e a corrosão da linguagem estão diminuindo o valor da verdade. A situação anda tão séria, que há “Tomés” que se deparam com a materialização das mentiras – fakenews – mas ainda assim, por mais absurdo que sejam determinadas invenções, a cegueira continua, pois não param nem para pensar se aquilo tem algum fundamento.
Leia também
Um outro problema é que a verdade “dói”. A verdade fere as convicções, “certezas” e opiniões de pessoas que se apegam a determinadas informações que parecem ser verdadeiras, principalmente pelo fato de terem tudo a ver, aparentemente, com as suas crenças individuais, religiosas e morais. Vive-se tempos em que a fé numa mentira agradável que se pareça com aquilo que você acredita e defende, se torna uma verdade que tapa os ouvidos e cega os olhos, mesmo diante de fatos incontestáveis.
A mentira está novamente em ascensão pelo mundo e no Brasil, porque as pessoas estão cada vez mais trancadas nos seus grupos partidários, de amigos e familiares que pensam igual. É mais fácil e mais cômodo ficar protegido pelos filtros que as redes e mídias sociais proporcionam, e se trancar em bolhas onde só hajam pessoas que acreditem nas mesmas coisas. Isso é fatal porque cancela ou dificulta muito a comunicação com o outro, com o diferente, porque é muito incômodo, sobretudo para o ego, imaginar a possibilidade e a insegurança de perceber que se está errado.
E o problema maior não é estar errado ou estar certo. O que é grave é a ilusão de estar certo, mesmo diante de fatos que provam o contrário. A troca da razão pela emoção e pela crença irracional faz as pessoas acharem que o pau é suficiente para provar que a cobra morreu e assim ficam muito mais suscetíveis à manipulação da verdade objetiva.
No livro “A morte da verdade”, há um relato de cientistas políticos americanos, da Universidade de Chicago, que provam por meio de pesquisas, que a simples crença está tomando a cada dia o lugar do fato e da verdade, tanto em situações antes jamais questionadas, quanto em coisas absurdas que são ditas. O estudo demonstrou que: 19% dos pesquisados acreditam que o próprio governo americano tem algum envolvimento com os ataques terroristas de 11 de setembro; e 11% acreditaram numa teoria maluca, criada pelos próprios pesquisadores, que dizia que lâmpadas fluorescentes faziam parte de um plano do governo para tornas as pessoas mais passivas e fáceis de serem controladas.
Em um mundo onde tudo se questiona, e onde tem aumentado a violência política, é confortável estar perto e conversar com quem pensa igual. O diferente é chato e incomoda. A presença nesse grupo fortalece as crenças de cada um.
Mentiras sempre existiram, muitas vezes para justificar vontades e ações abomináveis. Ocorre que, neste período em que vivemos, a inteligência artificial, fruto da quarta revolução industrial/tecnológica, proporcionou o disparo de mentiras em escala industrial, a partir das plataformas de redes sociais como o Watts App e mídias sociais como o Facebook, Instagram e Twitter.
Se é verdade que uma mentira repetida muitas vezes vira verdade. Hoje, centenas de mentiras são disparadas e inundam as pessoas com informações falsas de tal forma, que é quase impossível distinguir o que é verdade e mentira. Praticamente impossível checar se é verdadeira cada informação repassada. Por falta de hábito, por preguiça e porque é mais fácil aceitar e repassar adiante se for algo que eu concorde, mesmo sem ter certeza se é verdade.
Quando o então candidato Jair Bolsonaro se recusou a participar de debates, ele não estava apenas demonstrando medo e despreparo. Ele estava impedindo que os membros de sua bolha, do seu grupo, ouvissem os argumentos do outro lado e percebessem qualquer deslize de seu líder, que pudesse revelar algo prejudicial aos seus seguidores e, principalmente, aos indecisos que pudessem estar dispostos a parar para PENSAR.
Longe de ser um “fenômeno” autêntico, Jair Bolsonaro nunca passou de uma réplica latino-americana e mal-acabada da estratégia de Donald Trump nos EUA (desenvolvida por Steve Bannon) e de Matteo Salvini na Itália. Seu perfil, que chegou a ser criticado até pela “colega” extremista de direita da França, Marie Le Pen, está mais próximo de Rodrigo Duterte nas Filipinas. É um perfil que continua a se alimenta da “anti-política”, do ódio a um “inimigo comum”, do fundamentalismo religioso, da boa vontade de iludidos, do criativismo exacerbado que promove a morte da verdade factual e mais recentemente, dos políticos do “centrão”, de onde ele mesmo não nega – hoje – que foi oriundo.
Por fim, a função da mentira na eleição é desestabilizar a democracia e as instituições, promover o medo, a desesperança e a desconstrução das verdades factuais. Por isso, a estratégia por meio da distração e criação de polêmicas para incentivar a divisão dos cidadãos e impedir que as pessoas pensem e dialoguem umas com as outras, escondendo assim a realidade dos fatos e as ações ultra neoliberais do governo que seguem a prejudicar uma população – em parte – anestesiada.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário