por João Batista Oliveira*
Estudo sobre preferências, prioridades e escolhas sobre a educação dos filhos revela que pais e mães pensam de maneira semelhante – independentemente de seu nível socioeconômico. O mesmo estudo também revela que pais brasileiros pensam de maneira semelhante aos de outros países onde foi aplicada a mesma pesquisa.
A pesquisa que acaba de ser divulgada foi encomendada pelo Instituto Livre Pra Escolher e realizada pelo iDados entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 com uma amostra de mais de 1.800 pais e mães de todo o país com filhos de 1 a 17 anos de idade.
O resultado que mais chama atenção é a semelhança entre as preferências dos pais em relação à escola que gostariam de ter para os seus filhos: se houver possibilidade de escolha, os pais do grupo socioeconômico mais baixo gostariam de matricular os filhos nas mesmas escolas em que se matriculam os filhos dos pais do grupo socioeconômico mais alto.
Os pontos de vista dos pais também coincidem bastante no que diz respeito à “escola ideal”, que, de acordo com os dados do estudo, deveria “contribuir para a formação de caráter ético e/ou moral dos alunos”. Por exemplo, mais de 90% dos pais de ambos os grupos identificam como fundamentais princípios como “pontualidade, organização e responsabilidade”, que devem ser promovidos pelas escolas. Também é elevado o consenso a respeito de outros itens como “formação do caráter, desenvolvimento de hábitos de estudo, de resiliência, de disciplina e de responsabilidade individual”. Para todos os grupos, esses objetivos são valorizados em níveis mais altos do que “estar pronto para o mercado de trabalho ao fim do Ensino Médio”.
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Com relação às questões “identitárias”, pais de ambos grupos reconhecem a existência de fortes preconceitos na sociedade e na escola, e querem que seus filhos cresçam e vivam num mundo menos dividido e aprendam a respeitar, ter empatia e trabalhar com pessoas diversas.
Igualmente pais de ambos os grupos, os mais pobres e os mais ricos, compartilham metas ambiciosas para seus filhos, aprovam a ideia de um currículo ambicioso que dê chance aos seus filhos de “ir longe” nos estudos e na vida.
Essas são apenas algumas das conclusões deste estudo – que seguiu a mesma metodologia e roteiro de um estudo realizado em outros países. Este tema é particularmente sensível no Brasil, pois o direito de escolha dos pais em relação à escola dos filhos se define essencialmente pelo nível socioeconômico das famílias: “quem pode” matricula os filhos em escolas privadas ou nas escolas federais, “quem não pode” matricula nas escolas públicas. Em períodos de crise econômica é nítido o movimento das famílias de renda média voltarem seus filhos para a escola pública, em períodos de melhoria salarial aumenta a matrícula na escola privada.
Ao promover esse tipo de estudo, o Instituto Livre Pra Escolher pretende estimular o debate a respeito do direito de escolha dos pais em relação à escola para os filhos, ou mesmo à opção pelo “homeschooling” ou “ensino domiciliar”, alternativa que é vista com suspeição pela maior parte do “establishment” educacional brasileiro.
Neste momento se discute no país um novo PNE (Plano Nacional de Educação). Sabemos que até aqui esses planos nunca resultaram em benefícios concretos – especialmente para as populações mais pobres que frequentam a escola pública. Sabemos também que os planos anteriores contribuíram para o aumento de gastos, sem contribuir para melhorar a qualidade. Independente de impacto desses planos, o momento é propício para abrir o debate sobre temas aparentemente proibidos ou menos ventilados – como o próprio conceito de público, escola pública e liberdade de escolha. Não há local mais privilegiado para este debate do que a Casa do Povo. Este estudo merece ser conhecido e debatido na Casa.
* João Batista Oliveira é presidente do Instituto Alfa e Beto.
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