As eleições de 2022 determinaram uma nova correlação de forças. A eleição presidencial foi a mais apertada de todos os tempos, reforçando a polarização entre o petismo e seus aliados de esquerda e o bolsonarismo. Nas eleições parlamentares, a direita ampliou sua presença na Câmara e no Senado, mas não deverá ter comportamento monolítico.
A estabilidade política para governar e fazer avançar a agenda dos desafios nacionais depende de formação de maioria parlamentar. Embora a proibição das coligações proporcionais e a cláusula de desempenho tenham racionalizado o quadro de representação parlamentar, a fragmentação ainda é grande, dificultando a recuperação do chamado “presidencialismo de coalisão”.
Lula tem grande experiência e habilidade política, acumuladas em seus dois mandatos anteriores e durante toda sua trajetória. Acompanhou de perto a crise do governo Dilma Rousseff e sabe que não conseguirá êxito na superação da crise sem maioria parlamentar.
É natural que as forças que pretendem compor a base de sustentação parlamentar do novo governo queiram participar do Ministério e da administração. Lula, até a última quinta, havia anunciado apenas nomes ligados ao PT e seus aliados de esquerda. Aguarda o desenlace da votação da PEC da Transição e a definição sobre o “orçamento secreto”.
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A dinâmica política se dará, grosso modo, em torno de cinco vetores: o PT e a esquerda, o bolsonarismo e a direita, o centro democrático, o centro independente e o Centrão.
O bolsonarismo, tudo indica, finalmente fará uma aposta numa construção partidária orgânica. As declarações do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, apontam para a estratégia de consolidar Bolsonaro como líder da oposição, mirando 2026. Mas os primeiros sinais revelam que o PP e os Republicanos não acompanharão este movimento. Também governadores como Tarcísio de Freitas, Zema e Ratinho Jr. adotarão uma postura de distencionamento da polarização e convivência administrativa cooperativa com o governo federal.
O Centrão, subtraído o PL, deve manter sua tradição de movimento pendular e, a partir do parlamento, defender seus interesses, mas sem uma postura oposicionista radical. O centro independente, onde se situam MDB, União Brasil e PSD, negocia adesão à base do governo e posições no novo ministério.
O centro democrático, formado por PSDB, Cidadania e Podemos, apesar da perda de peso eleitoral e parlamentar, optou por uma postura independente e de construção de uma alternativa tanto a Lula, quanto a Bolsonaro. Terá a complexa tarefa de recuperar elos efetivos com a sociedade, ampliar sua militância e sua capacidade de mobilização, fortalecer suas redes sociais, aumentar sua visibilidade com atuação parlamentar vigorosa e reconstruir suas bases programáticas.
O caminho poderia ser outro com uma aliança com o MDB e Simone Tebet ou com as forças socialdemocratas do PSB e PDT, através do vice-presidente Geraldo Alckmin. Mas isso implicaria em rever sua postura de oposição a Lula e ao PT.
Por último, cabe a Lula, ao PT e à esquerda mostrarem que fizeram a leitura correta das urnas, adotando uma postura ampla e agregadora e abandonando sua postura histórica um tanto exclusivista e hegemonista.
A sorte está lançada. O Brasil precisa urgentemente de paz, crescimento, superação da crise, avanços e reformas.
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