Depois de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT que foi assassinado durante a sua festa de aniversário em Foz do Iguaçu, no Paraná, em julho, mais um petista acaba morto depois de uma briga política. A vítima agora foi Benedito Cardoso dos Santos, em Cuiabá, no Mato Grosso, na noite do dia Sete de Setembro, dia em que o país comemorava 200 anos da sua independência.
A nova morte, trágico final de uma violenta discussão política, coincide com o momento em que os dois principais candidatos à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Jair Bolsonaro, do PL, levaram para as cenas das suas campanhas na TV para valer o tema da corrupção.
Veja o comentário em vídeo:
É difícil não imaginar conexões. O Brasil vive a mais violenta e radical de suas disputas políticas a partir de algo que se originou do debate sobre corrupção. Há algo forte de frustração nessa escalada de violência. Segue firme na memória das pessoas clássica propaganda feita por Duda Mendonça na campanha de Lula em 2002 em que ratos roíam a bandeira do Brasil. Lula, então, pautava a campanha dizendo que poria fim à corrupção no país. O mensalão foi o primeiro balde água fria. O petrolão o balde final.
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Bolsonaro, então, entra na campanha de 2018 afirmando que poria fim à corrupção do PT. Pega o juiz da Lava-Jato, Sergio Moro, pelo braço e o torna ministro da Justiça. Rompe com Moro, que sai do governo denunciando as tentativas de Bolsonaro de interferir na Polícia Federal para blindar seus filhos e amigos. Filhos envolvidos na investigação de esquemas de rachadinha. Amigos envolvidos em esquemas de desvio de recursos no Ministério da Educação. Presidente blindando-se com a compra de apoio político com os R$ 19 bilhões das verbas do Orçamento secreto. Apartamentos comprados em dinheiro vivo, sem a necessária comprovação da origem do recurso.
PublicidadeE, nas ruas, pessoas brigando em torno de algo que nem sabem direito exatamente o que seja. Movidos por paixões que fogem quilômetros de distância da racionalidade. E que, é preciso que se diga, é reforçado principalmente por um dos lados na disputa. O discurso de Bolsonaro e da sua trupe é sempre beligerante. Seu símbolo é um revólver feito com os dedos da mão. Seria extremamente injusto querer comparar os lados. E não é isso o que propõe esse comentário. Bolsonaro acende o rastilho de pólvora. Mas, infelizmente, ninguém trata de apagá-lo.
Nos casos das duas mortes, é preciso anotar que, infelizmente, havia dos dois lados uma intenção beligerante. O que está longe de significar que as mortes se justifiquem, antes que algum desavisado queira partir para essa argumentação. No caso de Marcelo, o bolsonarista Jorge Guaranho foi provocá-lo inicialmente. Os dois discutiram e Guaranho voltou depois, armado de um revólver. Mas o que fez Marcelo nesse meio-tempo? Em vez de chamar a polícia, ele também foi buscar um revólver.
Agora, Benedito foi morto em Cuiabá após uma briga violenta com o bolsonarista Rafael Silva de Oliveira. De acordo com o relato da política, primeiro Benedito deu um soco em Rafael. E ele é quem teria buscado uma faca. Desarmado por Rafael, levou 15 facadas nas costas. E depois Rafael foi buscar um machado para o trágico desfecho final.
Voltando às propagandas, o PT começou a veicular um anúncio no qual torna quase escondida a origem, que aparece somente no minúsculo letreiro obrigatório determinado pela Justiça Eleitoral. No qual enumera os dados da reportagem feita pelo UOL que revela que a família Bolsonaro comprou mais de 50 imóveis em dinheiro vivo.
A campanha de Bolsonaro respondeu, então, ao anúncio. Com uma inverdade. Disse que as escrituras falam em “pagamento em moeda corrente”, o que não seria dinheiro vivo. O UOL já respondeu mostrando que a longa apuração que fizeram seus repórteres demonstra, sim, o pagamento em dinheiro nos casos. Alguns com a própria admissão do comprador, caso do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em um apartamento adquirido por ele na Barra da Tijuca, no Rio.
Há ainda outra propaganda do PT que toca agora no tema da corrupção, para falar sobre os processos e acusações contra Lula. Justamente mostrando que Moro, após condená-lo e mandá-lo para a prisão, tornou-se ministro de Bolsonaro. Início de um processo que acabou levando a Justiça a concluir que Moro tinha sido parcial nos seus julgamentos, o que levou à anulação de todas as condenações.
Algo, porém, que não autoriza nem Lula nem o PT a dizerem que não houve corrupção em seus governos. E muito menos permite a Bolsonaro, em meio às rachadinhas, pastores e compras de apartamento em dinheiro vivo, a afirmar que não houve corrupção no seu governo.
As evidências deixam argumentos para os dois lados. As discussões, então, saem do campo da racionalidade. As paixões viram ódio e irracionalidade. A corrupção baila com a morte.