Nos últimos dias correm soltas as críticas sobre a estratégia de comunicação do “pré-candidato” Lula. Devido a declarações focadas no público mais à esquerda, algumas escorregadas em assuntos desnecessários e a troca de comando da comunicação no ninho petista, a crítica ganhou força.
Do outro lado, aqueles que temem Bolsonaro apontam sua coerência e atuação permanente na comunicação. Veem em Bolsonaro alguém que está sabendo para onde dirigir os rumos da comunicação de sua candidatura.
Tal forma de ver as coisas encerra um paradoxo. Explico-me.
Estamos em maio, Lula é “pré-candidato” e conquistou para sua vice o moderado/conservador Geraldo Alckmin.
Lula precisa, antes de sair agradando a todo eleitorado, principalmente aplacar desconfortos no PT e agradar a militância e os simpatizantes de esquerda. Lembrar maio ilumina o fato de que a campanha oficial será curta, mas a verdadeira longa e intensa. Há tempo de convergir para o centro.
Em termos lógicos Lula precisa fazer o velho caminho de começar na extrema do eleitorado, no caso a esquerda, e caminhar para o centro. Ganhando a esquerda e o centro conquista-se a vitória.
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Bolsonaro hoje, assim como Lula, também fala para seu público da extrema, no caso a direita – em verdade ele vem falando exclusivamente com esse público desde a posse. E para vencer, também precisa do centro, mas busca acessá-lo de forma diferente.
Se em qualquer país do mundo a distinção esquerda-centro-direita nunca se espelhou perfeitamente na política, muito menos entre nós. Contudo, dá para dizer que o eleitor de centro, hoje, é alguém que não está engajado na política por profundas emoções ou convicções ideológicas. É alguém que se norteia pelos desafios próprios do dia a dia e que espera no horizonte uma vida melhor. Hoje, para esse contingente, parece-me que a inflação e os clássicos problemas de serviços públicos pesam mais que qualquer outra questão.
Assim, Lula, se quiser convergir para o centro, deve procurar dialogar com esse público. A imprensa noticia abundantemente os avisos que o ex-presidente recebe para falar da “carestia”, do “desemprego”, para moderar-se nas questões morais e até dar pitadas de Deus e bíblia onde couber. Ao final, se tudo der certo para Lula, ele se apresentará para o eleitor em outubro como um candidato moderado, preocupado em fazer o cidadão melhorar de vida. A companhia de Alckmin, nesse sentido, será essencial.
Para Bolsonaro, “carestia”, “desemprego” e melhora de vida não serão temas para dialogar com o público de centro. De fato, o presidente seguiu e seguirá novamente uma estratégia diversa. Como bem explicou Giuliano da Empoli em seu ótimo livro Os Engenheiros do Caos, a comunicação de candidatos como Bolsonaro, que se valem das redes sociais e engajamentos emocionais pesados, consiste em radicalizar os extremos e adicioná-los. Radicalizar é tornar intenso, adicionar é uni-los em um propósito, mas sem pontes de contato entre si. Essa fórmula nos diz que ele não irá moderar o discurso para caminhar ao centro.
Sua estratégia deve ser faccionar o eleitorado em tantas partes quantas lhe forem convenientes e depois adicioná-los aos seus apoiadores. Isso hoje já se dá pelo discurso pró-armas, pela campanha religiosa, pelos ataques ao STF entre outros, mas isso abarca o público mais à direita, em que a ideologia pesa mais.
Para continuar avançando e conquistar o centro, Bolsonaro necessita energizar novos temas (issues) que mobilizem esse eleitorado hoje ainda não mobilizado, e que passem a enxergar no atual presidente a força para salvá-los. Provavelmente os temas em que o presidente aposta para mobilizar esse centro sejam o anti-petismo/comunismo e a corrupção. Assim, de fato, Bolsonaro não conquistaria o centro, mas sim o radicalizaria a seu favor.
Dessa forma, o paradoxo da comunicação está no seguinte.
Lula, ao que tudo leva a crer, fala hoje com seu eleitorado fiel e deverá se encaminhar para o centro. Assim, criticá-lo porque agora está se comunicando com a esquerda e abandonando o centro me parece apressado. Lula já escorregou até o momento, mas não ao escolher falar para seu público fiel. Errou a dar margem para Bolsonaro explorar pontos fracos, como falas contra a moralidade conservadora. Lula cometerá pecado mortal, sim, se não convergir para o centro com um discurso de união.
Bolsonaro, ao contrário, tem a campanha elogiada, mas ao fim e ao cabo tem obtido vitórias esmagadoras junto ao seu público cativo, o que não é algo sensacional. O que ele procura e precisa são temas com energia – certamente ajudado por falhas na comunicação lulista – que lhe permita explorá-los, fomentar emoções fortes e engajar seguidores. Bolsonaro acerta agora, mas nada garante que continuará acertando. O centro que hoje sofre com inflação e desemprego precisará ser energizado e mobilizado por outras questões, e aí está o desafio da campanha de Bolsonaro.
Em resumo, Lula precisa atuar muito e errar pouco, e o cenário lhe é favorável. Bolsonaro, ao contrário, precisa que o adversário erre e ainda que consiga encontrar temas que cativem seu eleitorado.
PS: Bolsonaro tem avançado em termos de imagem ao abrir a bolsa do Tesouro e conceder favores a grupos econômicos – parece que a carestia não é tão severa para esses. Quando o favor atinge um necessitado entende-se, mas “liberais” acharem que favores mostram um futuro promissor para 2023 me assombra.
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