Fábio Bispo, especial de Buenos Aires *
Neste domingo (27) os argentinos vão às urnas em uma das campanhas mais polarizadas da história recente do país. Em disputa estarão, basicamente, dois modelos de gestão bastante distintos e também conhecido. O atual presidente, Maurício Macri (Proposta Republicana), que forma a chapa Cambiemos com Miguel Ángel Pichetto como vice, tenta reforçar o modelo liberal, que predomina desde 2016, quando assumiu a presidência. Enquanto os oposicionistas da chapa Frente de Todos, com Alberto Fernádez (Partido Justicialista) e que tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner, apostam na construção de políticas com viés social, mais protecionista.
> Argentinos vão às urnas no próximo domingo com o pior cenário econômico e social em dez anos
As primárias, realizadas em agosto, apontam para uma possível vitória de Fernández ainda em primeiro turno, dado que se confirma também nas pesquisas divulgadas na última semana.
Leia também
Entre as principais propostas da Frente de Todos está a destinação de 1,5% do orçamento para a primeira infância e a isenção de impostos para itens da cesta básica. Ambas as propostas buscam dialogar com os indicadores que apontam crescimento da pobreza, que atinge 35,4% da população (mais de 15 milhões de argentinos). Entre os mais jovens a pobreza é ainda mais cruel e afeta mais 52% dos jovens com menos de 14 anos.
Ao longo de 37 páginas, a chapa de Fernández ainda faz um diagnóstico da situação atual do país mas tem dificuldades em apresentar propostas concretas para mudar questões como o alto índice de pobreza e desemprego. No capítulo destinado ao desenvolvimento econômico, por exemplo fala em inverter a política comercial, exportando mais que importando, mas sem sinais claros de como isso ocorreria. Entre 2007 e 2015, durante a gestão de Cristina, houve ampliação da lista de produtos que precisavam de licença para entrar no país. A Argentina é o principal mercado de manufaturados brasileiros.
A chapa ainda propõe a criação de um plano de seguridade social com perspectiva de gênero, e a criação de diversos organismos como Conselho da Juventude e de Emergência Infantil e Adolescência. Fernandéz ainda promete a criação de um sistema massivo de créditos com baixas taxas para as famílias.
O partido do governo Macri discorre sua proposta em 15 páginas onde reforça a proposta de reduzir a pobreza e a promessa de uma melhor “integração inteligente com o mundo”. A pobreza e a abertura de mercados já estavam presentes na campanha de 2015, quando foi eleito. O documento define a pobreza como o principal problema econômico da Argentina.
A maioria das propostas têm cunho mais mais conceitual que proposta concretas, a exemplo do plano da oposição. No capítulo destinado a estabilidade macroeconômica é proposto maior investimento para desenvolver atividades econômicas e fala de política monetária prudente. Também é citado um rol de propostas ligadas a infraestrutura, como ampliação do sistema de saneamento, construção de vias e até mesmo de acesso a internet. Macri também promete ampliar a criação de empregos formais, mas cai na generalização sem apontar como implantaria tais políticas frente aos indicadores da sua gestão que apontam uma curva no sentido oposto.
Assim como no Brasil, as propostas das campanhas cumprem muito mais com formalidades e não necessariamente serão implementadas imediatamente. Os documentos não apresentam cronogramas de metas e são superficiais ao tratarem de assuntos de grande interesse público, como é o caso da política cambial, emprego e pobreza.
* Fábio Bispo viajou a Buenos Aires pelo programa Jornalismo Sem Fronteiras, que tem como foco a formação profissional de correspondentes, coordenado pela jornalista Claudia Rossi.
> Disparada do dólar aumenta o drama da eleição na Argentina