O presidente Jair Bolsonaro, em uma das suas conversas com eleitores na porta do Palácio da Alvorada, disse que as eleições dos Estados Unidos da América (EUA), realizadas em outubro de 2020, foram fraudadas, e que uma suposta falta de confiança do povo norte-americano no sistema eleitoral de lá teria gerado a invasão do Capitólio, sede do Congresso daquele país. Nesta quinta (6), exatos um ano depois da tentativa de insurreição malsucedida, Bolsonaro não mudou publicamente de opinião – e até chegou a manter no ar, por alguns meses, a possibilidade de o mesmo ocorrer no Brasil.
Mesmo a proposta de voto impresso arquivada, ao sair do hospital, em São Paulo, na quarta-feira (5) onde esteve internado, Bolsonaro voltou a atacar Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com quem antagonizou a discussão sobre o voto impresso.
A invasão do prédio, feita por republicanos apoiadores do então presidente Donald Trump, acabou com cinco mortos – um policial e quatro manifestantes, além de mais de 700 presos. O ato começou com um discurso de apoiadores do republicano, que colocaram em dúvida, com discursos recheados de mentiras, a votação que deu a vitória presidencial ao democrata Joe Biden. Naquele seis de janeiro de 2021, senadores e deputados validavam o resultado das eleições no Capitólio, etapa considerada mera formalidade final antes da posse em 20 de janeiro.
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O próprio presidente republicano, abusando de informações falsas e distorcidas, incitou os revoltosos a agir. “Vamos para o Capitólio e vamos tentar dar o tipo de orgulho e ousadia que eles precisam para recuperar nosso país”, disse Trump, antes de voltar à Casa Branca.
Um dia depois dos eventos nos Estados Unidos, Bolsonaro – defensor de primeira hora de Trump – manteve-se do lado dos insurreicionistas. Também sem apresentar nenhuma prova, acusou as eleições do outro país de fraude.
“Agora, muita denúncia de fraude, muita denúncia de fraude. Eu falei isso há um tempo e a imprensa falou ‘sem provas, o presidente Bolsonaro falou que teve, foram fraudada as eleições americanas'”, disse Bolsonaro ao responder uma apoiadora no Alvorada.
PublicidadeO então chanceler Ernesto Araújo foi outro a não dar o braço a torcer. “Nada justifica uma invasão como a ocorrida ontem. Mas ao mesmo tempo nada justifica, numa democracia, o desrespeito ao povo por parte das instituições ou daqueles que as controlam”, quis argumentar Araújo, em uma série de mensagens onde cobrou, na condição de ministro das Relações Exteriores do Brasil, a possível ação de “infiltrados” da esquerda na manifestação.
-Há que lamentar e condenar a invasão da sede do Congresso ocorrida nos EUA ontem.
-Há que investigar se houve participação de elementos infiltrados na invasão
-Há que deplorar e investigar a morte de 4 pessoas incluindo uma manifestante atingida por um tiro dentro do Congresso
— Ernesto Araújo (@ernestofaraujo) January 7, 2021
À época, Bolsonaro também argumentou que o voto eletrônico poderia causar problemas similares no Brasil, nas eleições de outubro deste ano. A mensagem iniciou uma ascendente de ataques do presidente ao sistema eleitoral brasileiro, acusando-o sem provas de fraude (que nunca foram apresentadas, nem por Bolsonaro, nem por pessoas por ele indicadas).
Os ataques continuaram em alta até a derrubada, pela Câmara dos Deputados, da proposta de voto impresso, em agosto.
Em relação à vitória de Biden nos EUA, Bolsonaro jamais reviu sua posição. Desde então, ambos jamais tiveram encontros diplomáticos diretos – o norte-americano escalou o seu enviado especial para o clima, John Kerry, para tratar com o presidente brasileiro.