No início do mês um vídeo “bombou” no Twitter e chegou à lista de mais assistidos da plataforma. Curioso é que o vídeo fala de política!
O vídeo de cerca de cinco minutos que viralizou é um trecho de uma audiência do Comitê de Supervisão e Reforma na Câmara dos Deputados americana sobre o projeto “HR 1”, conhecido como Lei do Povo de 2019. Assista legendado em português:
As imagens trazem a jovem deputada Alexandria Ocasio-Cortez criticando o sistema americano de financiamento eleitoral, que permite que setores econômicos financiem campanhas para representantes no Legislativo, ou até para Presidente dos EUA, sem limite posterior sobre que tipo de legislação podem propor, alterar ou influenciar. Ou até mesmo ter ações de uma empresa e propor a desregulamentação de seu setor, fazendo com que o preço das ações suba.
A linguagem é simples e impactante. Para ilustrar seu argumento, Ocasio-Cortez faz o que chama de “Jogo da Corrupção”, no qual ela interpreta o “vilão”, que coloca seus interesses à frente do povo americano. Numa narrativa com doses de ironia ela simula situações e questiona se haveria impedimentos legais que a impediriam, como representante eleita, de legislar sobre temas que beneficiariam empresas que destinaram dinheiro para sua campanha.
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Ocasio-Cortez foi extremamente eficiente em levar ao grande público um debate importante para a política americana. Foi também bem sucedida ao mobilizar a sociedade, principalmente os usuários das redes sociais, eminentemente jovens, para a discussão de políticas (já obteve quase 40 milhões de visualizações!).
A viralização do vídeo promoveu a discussão e levou as pessoas a falarem sobre o projeto, consolidando apoio a ideias ali debatidas. É preciso ler os sinais de novo tempos para a comunicação política. Ocasio-Cortez tem o perfil do “parlamentar das redes sociais”, um fenômeno tanto lá quanto cá. Tem um grande poder de comunicação com um grande público que tem poder de pressão junto aos representantes.
Há quem chame essas redes de “o quinto Poder”. E não sem razão – nos EUA, foi importante para eleger Mr. Trump, aqui elegeu o presidente Jair Bolsonaro e impediu a eleição de Renan Calheiros para a Presidência do Senado.
No darwinismo político, prevalecem aqueles que aprenderam a colaborar e a se adaptar com mais eficácia. As redes estão assumindo papel poderoso na política. E esse novo perfil de parlamentar sabe pilotá-las muito bem.