Eleições nos EUA provavelmente repetirão a dupla Biden versus Trump, mas a vaga do partido Republicano permanece incerta, não somente até o final das primárias em 2024, como eventualmente até após as eleições.
Se a escolha pragmática do partido Democrata na escolha de Biden para enfrentar Trump mais uma vez nas urnas é certa, do lado republicano, o cenário é complexo. Nova pesquisa eleitoral divulgada pelo New York Times/Siena College esta semana mostra Trump com vantagem sobre Biden na maioria dos Estados-chaves pesquisados (Trump lidera em Nevada, Georgia, Arizona, Michigan e Pennsylvania; Biden somente em Wisconsin). Trump também lidera as pesquisas que cobrem as primárias republicanas com quase metade dos votos, bem à frente dos demais candidatos.
O fator delicado aqui é que Trump está realmente enrolado em vários processos na Justiça que podem gerar condenação ainda antes das eleições do ano que vem. O ex-presidente foi acusado de dezenas de crimes em quatro casos: dois federais, um em NY e outro na Georgia. Separadamente, um julgamento por fraude civil está acontecendo em Nova York. Esta semana foi a vez de Trump testemunhar no banco de testemunhas do Tribunal, em decorrência de uma ação movida pela procuradora-geral de Nova York, Letitia James, em que Trump e outros réus, incluindo suas empresas e o filho Donald Jr, são acusados de atribuir arbitrariamente valores aos seus imóveis para chegar ao patrimônio líquido desejado pelo ex-presidente, incluindo fraudes na metragem declarada de alguns imóveis.
Este processo será finalizado em 22 de dezembro deste ano, antes do fechamento das primárias republicanas, que vão de janeiro a junho de 2024. O desfecho desse processo é importante por dois motivos: primeiro, por ameaçar a imagem de empresário de sucesso que sustenta a figura pública de Trump. Segundo, pois na hipótese de condenação, as pesquisas indicam que uma parte dos eleitores de Trump (6% nos Estados-Chave pesquisados) voltaria atrás em sua opção de voto. Numa eleição que parece caminhar para uma diferença apertada entre os dois candidatos, a exemplo da mesma escolha binária em 2020, a condenação pode sim fazer diferença.
Vale ressaltar que, como nos EUA não existe nada como a Lei da Ficha Limpa do Brasil, ainda com a condenação, Trump pode concorrer à Presidência dos EUA. No entanto, se uma suposta condenação realmente começar a fragilizar os números nas pesquisas eleitorais, abre-se uma pequeníssima hipótese, dada a janela de tempo curta, para Ron DeSantis e Nikki Haley voltarem ao jogo pela pré-candidatura do partido Republicano. Em tese, até o partido Republicano pode deliberar pela retirada do nome de Trump da cédula eleitoral nas primárias. No entanto, esse cenário é bem improvável, o partido Republicano tem agido de forma majoritária no apoio a Trump.
No cenário mais provável, Trump será, sim, o candidato republicano repetindo a última eleição Trump versus Biden. Nessa hipótese, caso Trump seja eleito com condenação em algum dos processos que correm contra ele; bem, neste cenário deixará um futuro bem incerto para os americanos, já que a Constituição e as leis americanas respondem a algumas questões, mas não a todas postas neste cenário nunca vivido anteriormente: um candidato eleito com condenações judiciais. Nessa hipótese a candidatura de Trump permanece incerta, mas a decisão não estará mais nas mãos nos eleitores americanos, mas sim, nas dos juízes federais.
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