O DeepSeek, ferramenta chinesa de inteligência artificial que está abalando as gigantes da tecnologia norte-americanas, domina o noticiário nos últimos dois dias. Lançado em 20 de janeiro, coincidindo com a posse de Donald Trump, o chatbot DeepSeek causou um impacto imediato no mercado. Em apenas uma semana, provocou uma queda de US$ 1 trilhão no valor de mercado das chamadas big techs na Bolsa de Nova York, superando o ChatGPT em downloads nos Estados Unidos.
Apresentado como uma alternativa econômica ao ChatGPT, o DeepSeek custou apenas US$ 6 milhões para ser treinado, em contraste com os bilhões investidos por empresas americanas. O Congresso em Foco entrou no embalo da novidade para consultá-la sobre o que pode acontecer com o Brasil após a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Com base na gestão anterior dele, a ferramenta chinesa fez uma projeção:
“A relação entre Brasil e Estados Unidos durante um eventual novo governo de Donald Trump dependeria de diversos fatores, incluindo a política externa adotada por Trump, o contexto global e as prioridades do governo brasileiro na época. Com base no primeiro mandato de Trump (2017–2021) e nas tendências atuais, podemos destacar alguns possíveis cenários:
Relações diplomáticas
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Governo Bolsonaro vs. governo Lula
Durante o governo Bolsonaro (2019–2022), houve forte alinhamento retórico e ideológico com Trump, especialmente em temas como conservadorismo, críticas ao globalismo e políticas ambientais. Caso o governo brasileiro atual (Lula) mantenha posições progressistas e de defesa ambiental, poderiam surgir atritos com um governo Trump, que historicamente priorizou interesses econômicos sobre acordos climáticos.
Diálogo sobre a Amazônia
Trump criticou em 2019 a gestão ambiental brasileira, mas não pressionou efetivamente. Um segundo mandato poderia oscilar entre desinteresse em questões climáticas e pressões pontuais de aliados republicanos ou do agronegócio americano.
- Relações econômicas e comerciais
Acordos comerciais
No primeiro mandato, Trump mencionou um possível acordo de livre-comércio bilateral, mas nada avançou. Um novo governo Trump poderia retomar essa agenda, beneficiando setores como agricultura e indústria brasileira, dependendo de reciprocidade.
Protecionismo
Trump é conhecido por políticas “America First”, incluindo tarifas e barreiras. Setores brasileiros, como aço e etanol, poderiam enfrentar desafios.
China como fator
Trump adotou postura dura contra a China. O Brasil, grande exportador de commodities para a China, poderia se beneficiar de uma guerra comercial EUA-China (como em 2018–2020), mas também enfrentar riscos de se ver no meio do conflito.
- Geopolítica e Segurança
Venezuela e América Latina
Trump apoiou medidas duras contra governos de esquerda na região (como Venezuela). O Brasil, dependendo de sua postura, poderia ser um aliado ou crítico dessa abordagem.
OTAN e Ucrânia
Se Trump reduzir o apoio dos EUA à Ucrânia, o Brasil, que mantém neutralidade relativa, poderia enfrentar pressões indiretas para se posicionar.
- Questões ambientais
Pressão internacional
Governos europeus e Biden pressionaram o Brasil sobre desmatamento. Com Trump, essa pressão diminuiria, possivelmente aliviando críticas internacionais, mas também reduzindo incentivos para políticas ambientais rigorosas.
Investimentos verdes
A falta de apoio americano a fundos climáticos (como o Fundo Amazônia) poderia limitar recursos para sustentabilidade no Brasil.
- Tecnologia e Defesa
5G e Huawei
Trump pressionou aliados a excluir a Huawei de redes 5G. O Brasil, que permitiu a participação chinesa, poderia enfrentar novas pressões.
Cooperação militar
A aproximação em defesa (como acordos para uso de bases ou compra de equipamentos) poderia avançar, dependendo da postura brasileira.
- Impactos domésticos no Brasil
Cenário político interno
Um governo Trump poderia influenciar movimentos conservadores no Brasil, fortalecendo grupos alinhados ao bolsonarismo.
- Economia
A combinação de políticas protecionistas dos EUA e demanda chinesa por commodities continuaria a ser um equilíbrio delicado para o Brasil.
- Conclusão
Um governo Trump tenderia a reforçar relações bilaterais pragmáticas, focadas em comércio e segurança, com menos ênfase em clima e multilateralismo. Para o Brasil, os efeitos seriam mistos:
Oportunidades
Abertura para acordos comerciais e alianças contra governos de esquerda na região.
Riscos
Pressões protecionistas, redução de apoio a agendas ambientais e tensões indiretas com a China.
O impacto real dependeria da capacidade do Brasil em negociar seus interesses de forma estratégica, equilibrando relações com EUA, China, Europa e outros atores.”
Lapidação humana
Para o cientista político Ricardo de João Braga, analista e coordenador de pesquisas do Congresso em Foco Análise, a resposta é “ampla, ancorada adequadamente em fatos”. Mas não substitui a capacidade de reflexão e análise humana dos fatos.
“Difícil ir contra ela [análise]. Mas passa um pouco de superficialidade. Não substitui a capacidade de reflexão de alguém que acompanha os assuntos. A diferença é que o humano especula com mais facilidade e liberdade”, observa.
Professor de Relações Institucionais do IDP, Robson Valdez também ressalta o diferencial de uma análise humana. “A análise da inteligência artificial é bem razoável ao mostrar linhas gerais dessa relação no aspecto estratégico e mais amplo. Nas questões mais específicas, como segurança e defesa, fica mais superficial”, diz. “Nessa questão de segurança e defesa, é pouco provável que o governo Lula avance com Trump. Não é a cara do PT isso”, ressalta. No geral, segundo ele, a análise aponta o caminho na direção correta. Ele, no entanto, pondera: “Precisa, claro, da inteligência humana para lapidar”.
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