Renato Casagrande *
O que dizer da vitória de Donald Trump nas eleições americanas? Sem dúvida, ele foi determinado e corajoso, adotou estratégia correta e buscou a vitória a qualquer custo. Os métodos podem ser questionáveis, mas não eliminam os méritos dele e de sua equipe, que souberam enfrentar uma Hillary Clinton vacilante e sem capacidade de transmitir segurança e confiabilidade à maioria dos eleitores.
O resultado surpreendeu, ou melhor, frustrou o mundo. Afinal, todas as pesquisas apontavam para uma disputa apertada até o último voto, mas poucos aceitavam a hipótese de derrota da candidata democrata. Não que ela fosse considerada uma liderança extraordinária, mas principalmente devido à enorme rejeição despertada na opinião pública mundial pelo perfil político do republicano e pelas ameaças que sua eleição anuncia.
A primeira consequência negativa da vitória de Trump é a luz que se joga sobre um líder sem escrúpulos e a mensagem de que vale tudo para ganhar uma disputa eleitoral. Desrespeitoso com as mulheres, defensor de um nacionalismo arrogante e intolerante com as diferenças entre as pessoas, seja na sua condição étnica, social, sexual ou religiosa: essa é a fotografia que boa parte do mundo tem do presidente eleito.
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Mas foi ele o vitorioso, e esse resultado poderá causar também um enorme retrocesso na agenda contemporânea e progressista mundial, já que os EUA cumprem papel fundamental para seu sucesso ou fracasso. Temas como mudanças climáticas, direitos humanos, redução de barreiras econômicas e ampliação de programas sociais correm sério risco de serem colocados de lado. E o pensamento conservador americano de que só é pobre quem não quer trabalhar tem tudo para voltar ao primeiro plano.
Se o discurso eleitoral de Trump ganhar a forma de políticas de Estado, as relações com a América Latina e com outras regiões menos desenvolvidas do mundo também devem dar alguns passos atrás. E a frágil paz mundial ficará ainda mais ameaçada com a perspectiva de que a diplomacia norte-americana amplie os focos de tensão em regiões já conflagradas, além de provocar novos desequilíbrios em outras partes do mundo. Talvez estejamos sendo pessimistas e o presidente eleito nos surpreenda positivamente. Talvez a maioria dos eleitores tenha visto um Trump que não conseguimos enxergar. Mas, por via das dúvidas, resta-nos confiar que as sólidas e seculares instituições americanas não permitirão posições desequilibradas e irresponsáveis que ameacem o país e o restante do mundo.
Que Deus salve a América, e nos proteja a todos.
* Renato Casagrande (PSB) é ex-governador do Espírito Santo, presidente da Fundação João Mangabeira e secretário-geral do PSB. Foi deputado federal e senador.