Celso Cunha * e Leonam Guimarães **
A fonte nuclear segue sendo uma alternativa necessária com a crescente demanda por energia. O nuclear nunca deixou de fazer parte importante do planejamento energético dos países do oriente. No ocidente, entretanto, a situação foi bem diversa nas últimas décadas. Mas os ventos estão mudando rapidamente. Temos testemunhado recentes movimentações de alguns países na reconsideração do uso da energia nuclear em suas matrizes energéticas por enxergar na energia nuclear a oportunidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e no combater as mudanças climáticas.
A Itália é um exemplo desse cenário promissor. O país abandonou a geração nuclear em 1990, depois do ataque de Chernobyl e hoje está retornando com essa matriz no seu planejamento energético. Tempos depois, a Associação Nuclear Italiana relatou que a Itália precisava desenvolver uma política energética nacional que pudesse incluir o reinício de seu programa de energia nuclear, uma vez que busca reduzir a dependência de combustíveis fósseis e importações da Rússia.
O parlamento italiano apoiou o plano do governo de incluir a energia nuclear na matriz energética do país como parte de seus esforços de descarbonização depois que o país abandonou seu programa nuclear há quase quatro décadas. Com esse investimento, a Itália pode ter capacidade de 35 GW de sete usinas até 2050.
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Já nos Estados Unidos, o apoio a energia nuclear vem desde 2012. Uma pesquisa do Gallup, que começou em 1994, relata que 55% dos adultos americanos apoiam o uso dessa energia. Além disso, o presidente Joe Biden incluiu a energia nuclear como estratégia para chegar a 100% de fonte de energia limpa até 2035.
A França também está junto na missão por um mundo com energia limpa com a implementação da energia nuclear. Na União Europeia, esse país lidera um grupo de 11 países que afirmaram o compromisso de até o final de fevereiro em reforçar o apoio a energia nuclear: “A energia nuclear é uma das muitas ferramentas que nos permitem atingir nossos objetivos climáticos, produzir eletricidade de base e garantir a segurança do abastecimento”, relataram os países em uma reunião de ministros europeus da Energia em Estocolmo.
Na Dinamarca, o partido ambientalista Alternativet e o partido social-liberal Radikale Venstre apoiaram a proposta com a ambição de obter mais conhecimento sobre a energia. As últimas pesquisas de opinião da Megafon A/S Consulting and Research já mostravam resultados positivos para a inclusão dessa matriz energética: 49% da população dinamarquesa votaria sim à energia nuclear na Dinamarca, com diferença de apenas 32% diriam que não, e os últimos 19% não sabem.
Os partidos liberal e de direita também apoiaram a contagem da Aliança Liberal, deixando claro seu posicionamento e recomendou-se realizar uma consulta pública para que especialistas possam apresentar análises sobre a energia nuclear. No entanto, o resultado é um grande marco para a população dinamarquesa, onde basicamente todas as partes deixaram claro o apoio a energia nuclear e aceitaram a premissa apresentada pelo IPCC e pela Unece de Energia Sustentável de que precisamos da energia nuclear para atingir as metas do acordo de Paris.
São muitos os desafios e as controvérsias com relação a energia nuclear, mas é importante perceber que alguns países estão optando por reintroduzir a energia nuclear em suas matrizes energéticas, portanto é necessário a reflexão. Como parte de seus esforços, esses países acreditam na energia nuclear para combater as mudanças climáticas, diversificar suas fontes de energia e garantir um suprimento estável de eletricidade, o que nos faz acreditar em um futuro com energia limpa e saudável para todo o meio ambiente.
** Celso Cunha é presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan).
* Leonam Guimarães é diretor técnico da Abdan.
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