Lúcio Lambranho, enviado especial
Manágua (Nicarágua) – O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, aproveitou a comemoração pelos 30 anos da vitória contra a ditadura de Anastasio Somoza para manifestar o desejo de mudar a Constituição para tentar mais um mandato no comando do país. Na Praça da Revolução, cercado de representantes do países de Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), o líder sandinista atacou o golpe contra o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, e fez campanha pela reeleição. “Aqui os deputados dizem que são contra a reeleição, mas eles podem se reeleger. Se vamos ser justos e iguais, a reeleição seria para todos. Esse é o príncipio”, disse Ortega ao público reunido na Praça da Revolução.
(Fotos: Roberto Gutierrez e Lúcio Lambranho)
Para conseguir aprovar a mudança na Constituição, que não prevê atualmente a eleição de um mesmo presidente mais de uma vez (Ortega esteve a frente do governo nos anos oitenta) e em mandatos consecutivos, são necessários 56 votos na Assembléia Nacional da Nicarágua. Analistas políticos ouvidos pelo site em Manágua acreditam que Ortega está muito próximo de conseguir o total de votos.
Apenas lhe faltariam cerca de duas ou três adesões de deputados entre todos os partidos. Segundo as mesmas fontes, Ortega já teria inclusive dois votos do Movimento Renovador Sandinista (MRS), uma dissidência da Frente Sandinista criada em 1996 por Sérgio Ramírez, ex-vice presidente do primeiro governo sandinista.
Bolivarianos
A festa de ontem reuniu principalmente militantes sandinistas e ficou devendo, em vários aspectos, às comemorações dos anos anteriores e à primeira delas, em 1979, na vitória contra Somoza. Os festejos sempre entravam noite a dentro, mas ontem terminou no final da tarde.
Empregados públicos alinhados aos prefeitos sandinistas eram recebidos em toldos para se proteger do calor da tórrida Manágua, enquanto os populares tentavam se proteger do calor com sombrinhas, bonés e água gelada. De fora da capital, a maioria era de funcionários filiados à frente sandinista que receberam ajuda de custo do partido para o deslocamento.
Por isso, a festa parecia ser mais dos vendedores ambulantes do que dos sandinistas mais envolvidos diretamente numa comemoração dos 30 anos do triunfo coletivo. Os militantes históricos da guerrilha e da Frente se revezavam em discursos em favor de Honduras e contra os Estados Unidos no palco principal da festa, que desta vez não contou nem mesmo com a presença dos presidente da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), organização liderada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Todos os presidentes da Alba mandaram apenas representantes que nem tiveram espaço para discursos. O comentário geral entre os participantes da festa era de uma sensação de desprestígio com a data nacional, considerando que o evento já contou com a presença de Fidel Castro e de outros líderes da esquerda em anos anteriores.
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