Cada vez somos mais vigiados. Cada vez mais temos que provar que somos honestos. E o desonesto? Esse continua tranquilo.
Sorria, você está sendo filmado. É um desrespeito. Já começa chamando todo mundo de você e há quem prefira outro tratamento, mais formal: senhor. Há quem quer ser chamado de vossa excelência. Bem, para não pegar mal e nem despertar suspeita, assim que vejo a placa de “sorria, você está sendo filmado”, abro o mais amplo sorriso.
No início, quando apareceram as primeiras placas, eu ficava irritado, pois não se sabia quem estava nos vigiando para cobrar o sorriso. Agora, sabemos: é o Obama.
A placa deveria ser: “Cuidado, o senhor (ou é você?) está sendo vigiado”. Com o recado direto, a gente não faria tudo o que em liberdade poderia fazer. Tomaria mais cuidado.
Quando filmado, não faça movimentos que podem ser considerados suspeitos. Não beije sua mulher ou seu marido mesmo que em sala fechada, você pode estar sendo filmado e nesses casos vão denunciá-lo ou denunciá-la por amar. Não olhe de lado, caminhe reto e ereto, é melhor não levantar nenhuma suspeita. Não ande rápido para não imaginarem que está fugindo e nem tão lento para não o considerarem um provocador.
Leia também
Caso suspeitem, vem um homem, que não sabemos de onde, vestido de uniforme. Só por estar de uniforme, ele já se imagina policial e te pede documentos, como se pudesse fazer isso. Mas pode ser pior. Pode, por qualquer gesto seu, imaginar que vai ser atacado e antes de ser agredido te aplica um golpe. Mas pode ser pior.
Tempos atrás tentei fazer uma compra numa loja de Curitiba. Assim que entrei na loja, vi a placa: “Sorria, você está sendo filmado”. Não sorri.
Escolhi a mercadoria, na promoção, e fui pagar com um cheque. As informações solicitadas (nome, endereço, estado civil, outras contas bancárias, nome de um amigo, etc.), talvez porque eu não tenha sorrido, eram tantas que pensei que estava numa delegacia de polícia sendo investigado. Desisti. Devolvi a mercadoria, fui embora resmungando baixinho, pois alguém poderia ouvir e achar que era algum desacato a algum funcionário.
Escrevi o texto/crônica acima em 13 de dezembro de 2007. Na época, por não achar oportuno publicá-lo, guardei na memória do computador. Revisando os arquivos do computador, encontrei-o e o achei atualizado. No momento, é muito difícil encontrar alguém que não esteja vigiado pelo Obama e seus serviços secretos, portanto, sorria sempre.
Não sei se Dilma Rousseff, Angela Merkel e até o Papa andam sorrindo. Parece que não, principalmente as duas governantas, pois ambas estão muito bravas com o Obama que sem mandar recado e sem pedir para sorrirem, passou a gravar as duas e todos e todas de que eles (Estados Unidos) desconfiam. Depois disso imagine se eu, ou até mesmo você, simples mortais, vamos reclamar por estarmos sendo gravados e/ou filmados. Vamos tentar sorrir sempre e fazer o mais bonito possível.
Estão vigiando nossos namoros, nossos beijos e até quando falamos ao celular.
Foi graças a Edward Snowden, ex-técnico dos serviços secretos dos Estados Unidos, que ficamos sabendo. Se não fosse ele revelar como funciona o serviço de espionagem dos Estados Unidos, provavelmente demoraríamos mais tempo para saber. Ou nem saberíamos.
Domingo passado (3), Snowden divulgou uma carta em que diz que “não se pode esquecer que a espionagem em massa é um problema global e requer uma solução global”. E que a espionagem não é só uma ameaça à esfera privada, mas para “a liberdade de expressão” e para os direitos humanos. Concordo.
Recentemente, Snowden enviou uma carta a Angela Merkel (não sei por que não enviou também para Dilma) afirmando que “quem diz a verdade não comete nenhum delito”. Também concordo.
Obama, deixe o Snowden em paz e deixe-nos sossegados. Por que você quer saber tudo que fazemos? Deixe de ser bisbilhoteiro.