Na abertura da 76ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro utilizou seu discurso para promover o chamado “tratamento precoce” contra a covid-19, tese rejeitada pela comunidade científica por ser considerada ineficaz no enfrentamento ao vírus. Bolsonaro também usou o espaço para atacar as medidas de contenção da pandemia por parte dos governadores e prefeitos, acusados por ele de serem responsáveis pela crise econômica.
Leia a íntegra do discurso de Bolsonaro
“Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez o tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e em seu uso off-label. Não entendemos por quê muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial”, declarou.
Bolsonaro também criticou as medidas de isolamento social, frequentemente combatidas pelo seu governo, implementadas nos estados e municípios para enfrentar a pandemia. “As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação em especial nos gêneros alimentícios no mundo todo. No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos que perderam sua renda, concedemos auxílio emergencial de 800 dólares para 68 milhões de pessoas em 2020”.
Confira abaixo a fala do presidente sobre o tratamento precoce:
PublicidadeLogo no início de seu discurso, o presidente reacendeu a ideia de que a pauta de seu governo era o combate a uma suposta ascensão do socialismo no Brasil. “O Brasil mudou e muito depois que assumimos o governo (…) Estávamos à beira do socialismo. Nossas estatais davam prejuízos de bilhões de dólares no passado. Hoje, são lucrativas. Nosso banco de desenvolvimento era utilizado para financiar obras em países comunistas, sem garantias. Quem honrava esses compromissos era o próprio povo brasileiro. Tudo isso mudou”.
A fala em relação aos governos anteriores serviu para exaltar as concessões realizadas ao longo de seu governo à iniciativa privada, bem como os programas de parcerias público-privadas. Ele afirmou também ter “recuperado” a credibilidade do país diante da comunidade internacional ao longo dos três últimos anos, procurando promover a imagem diante de investidores estrangeiros.
O presidente disse que desde o início de seu governo não há corrupção no país. A declaração é feita no momento em que a CPI da Covid apura irregularidades na compra de vacinas contra a covid-19.
Defesa do agronegócio
Bolsonaro também defendeu o agronegócio brasileiro, procurando retratá-lo como uma força na promoção de pautas ambientalistas. “Nossa moderna e sustentável agricultura de baixo carbono alimenta mais de um bilhão de pessoas no mundo, e utiliza apenas 8% do território nacional”, declarou.
Seu governo sempre foi alvo de críticas ao lidar com a gestão ambiental, tópico que o presidente procurou retratar como um ponto forte de seu governo. “Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa quanto a nossa. Nosso código florestal deve servir de exemplo para outros países. (…) Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta”, garantiu.
Bolsonaro comentou sobre o adiantamento de dez anos do compromisso do Brasil em alcançar a neutralidade climática, e afirmou ter dobrado o investimento em órgãos ambientais “com vistas a zerar o desmatamento ilegal”. Afirmou também já ter observado 32% de redução do desmatamento na Amazônia no mês de agosto de 2020 comparado ao mesmo mês em 2021. “Como nenhum país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa, os senhores estão convidados a visitar a nossa Amazônia”, comentou.
O choque de interesses de seu governo com os povos indígenas também foi tratado em seu discurso, por meio do qual tentou promover sua agenda. “14% do território nacional, (…) uma área equivalente à Alemanha e França juntas, é destinada às reservas indígenas. Nessas regiões, 600 mil indígenas vivem em liberdade, e cada vez mais desejam utilizar suas terras para agricultura e outras atividades”.
Sete de Setembro
Bolsonaro exagerou ao comentar as manifestações do último dia sete, marcadas pela participação dele em ataques ao Supremo Tribunal Federal e ao ministro Alexandre de Moraes. Sem amparo em números, Bolsonaro disse que “milhões de brasileiros” promoveram a “maior manifestação de nossa história”.
“Milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas (…) mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo. Como demonstrado, o Brasil vive novos tempos”, declarou. O discurso de Bolsonaro foi sucedido pelo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
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