O senador Sergio Moro (União-PR) adotou o silêncio para não repercutir a declaração do Papa Francisco sobre a prisão do presidente Lula (PT) resultante da Operação Lava Jato, comandada pelo hoje senador. Em uma entrevista, o pontífice afirmou, entre outras coisas, que Lula foi preso injustamente e que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) “tem as mãos limpas”.
A conversa com o Papa foi exibida na noite da última quinta-feira (30) pelo canal argentino C5N e repercutiu no Brasil na sexta-feira (31) e durante o final de semana. O pontífice comentou sobre o lawfare, termo utilizado para se referir ao uso do sistema da Justiça para perseguir politicamente adversários e citou casos no Brasil, Equador, Argentina e Bolívia. Procurado pelo Congresso em Foco, Moro não quis se manifestar.
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“O lawfare abre caminho nos meios de comunicação. Deve-se impedir que determinada pessoa chegue a um cargo. Então, o pessoal o desqualifica e metem a suspeita de um crime. Então, faz-se todo um sumário, um sumário enorme, onde não se encontra [a prova do delito], mas, para condenar, basta o tamanho desse sumário. ‘Onde está o crime aqui?’ ‘Mas, sim, parece que sim…’ Assim condenaram Lula”, afirmou o líder da Igreja Católica.
Coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o ex-procurador e atual deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) também foi procurado pela reportagem. Mas não houve resposta até o momento.
Sobre a ex-presidente Dilma que sofreu um processo de impeachment em 2016, o Papa Francisco afirmou que ela é “uma mulher de mãos limpas, uma mulher excelente”. Ainda de acordo com o pontífice, o impeachment de Dilma foi “injusto”.
Nas redes sociais, defensores da Lava Jato e opositores de Lula evitaram repercutir as declarações do Papa. O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS) foi um dos poucos que entrou no assunto. Em um tuíte publicado na sexta-feira (31), o parlamentar afirmou que “Papa dando opinião e se intrometendo em política de um País deveria renunciar ao Pontificado”.
PublicidadePapa Francisco diz que o ex-futuro-presidiário Lula foi condenado injustamente e que Dilma tem mãos limpas.
Papa dando opinião e se intrometendo em política de um País deveria renunciar ao Pontificado.
No Brasil, ele entrou num descrédito total.
Nem Papa normal existe mais…— Bibo Nunes (@bibonunes1) April 1, 2023
Já o deputado Luiz Lima (PL-RJ) publicou na sexta-feira um vídeo com o discurso do Papa com o título “Papa Comunista” e afirmou que “o trabalho para acabar com o comunismo é extremamente longo e árduo”.
O presidente Lula passou 580 dias preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR) após julgamentos da Operação Lava Jato. O petista foi solto no dia 8 de novembro de 2019, após o Supremo Tribunal Federal (STF) votar pelo fim da prisão em segunda instância.
Em uma entrevista em fevereiro, Lula comentou a atuação da operação e afirmou que não poderia “voltar a governar um país magoado com aquilo que me foi feito, que me prejudicou”. “Um cidadão, e uma tal de força-tarefa, conseguiram durante anos enganar a imprensa, enganar o poder Judiciário, enganar a sociedade brasileira. Foi a maior mentira contada. (…) Todo mundo foi pego na mentira, todo mundo começou a divulgar como verdade”, afirmou o presidente.