Há um incêndio, com inocentes mortos e outros ameaçados, e uns caras chegam mais gasolina. Que nome dar a quem faz isso? Como qualificar quem propõe, concorda, apoia e de alguma forma ajuda esses que jogam gasolina no incêndio?
Entre os anos 1950/1970 morria-se de medo da construção anual de não sei quantas bombas nucleares, cada vez mais fortes. O temor da guerra nuclear era generalizado. Aqueles hoje com menos de 40 anos talvez tenham dificuldade de entender tal sentimento, que não viveram.
Hoje, estão em construção mais de 500 bombas que, embora distintas das nucleares, também são de extermínio em massa; são reais e, pois, diferentes daquelas do Iraque, inventadas para alguns ganharem dinheiro com a guerra. São as chamadas bombas climáticas. O que são elas?
Segundo os autores de um estudo recente, são mega operações para extrair o CO2 armazenado no subsolo e injetá-lo na combalida atmosfera, empreendimentos que, cada um deles, operando plenamente, lançará mais de 1 giga tonelada (GtCO2) de CO2 na fina camada que nos protege. Afora outras menos potentes, os autores identificaram 450 dessas bombas de destruição em massa, pela ordem de maior a menor potencial explosivo (“radioatividade”?), patrocinadas por China, EUA, Rússia, Arábia Saudita, Austrália, Qatar, Canadá, Iraque, Índia e Brasil. Juntos, emitirão adicionais 890 GtCO2! Isso, embora o limite de emissões para que o aquecimento global não ultrapasse o 1,5oC acordado em Paris seja 420 GtCO2.
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Repetindo: com emissões maiores que 420 GtCO2 a temperatura explode, com nefastas consequências. Aliás, como as previsões sobre eventos climáticos extremos têm subestimado a intensidade destes, é possível que as emissões possíveis sejam ainda menores! Não obstante, empresários, financistas e políticos influentes naqueles 10 países, de diversas formas, apoiam, promovem e querem ver tais bombas detonadas. Perdão, “operando”, dirão eles. Eufemismo à parte, elas injetarão na atmosfera 890 GtCO2, quando o limite é inferior à 420 GtCO2!
Os incendiários responsáveis por tais projetos de extração os chamam, enganosa e eufemisticamente, de “projetos de produção de petróleo, gás natural e carvão”, como se algum dia algum deles tivesse “produzido” algum desses restos fossilizados dos biomas em que dinossauros e seus avós viveram. Muitos deles defendem, ainda, que não há problema em desenterrar tais restos e injetá-los na atmosfera porque em breve teremos tecnologia (será?) para capturar o CO2 no ar e enterrá-lo de volta. Loucura? Vício? Ambição? Assassinato?
Acionadas, essas bombas explodirão as condições de habitabilidade deste planeta. Exceto pelo crescente número de óbitos súbitos decorrentes de enchentes, secas e incêndios, essas serão mortes lentas. Qual é pior, morte súbita ou lenta?
Por matarem lentamente, a detonação dessas bombas terá pouca e fraca oposição das suas vítimas, que somos todos nós. Outra razão para pouca oposição é que os interessados nesses megaprojetos comemorarão sua operação, dizendo que vêm salvar o mundo com a “produção” de mais energia. Isso, ao tempo em que fontes de energias limpas se tornam cada vez mais competitivas, e o seriam ainda mais caso os subsídios à injeção de CO2 na atmosfera fossem eliminados!
Os interessados nesses empreendimentos dirão ainda: “eles são essenciais para o crescimento econômico”, quando, agora e no futuro, cada vez mais, os danos causados aos biomas com o estilo desse “crescimento”, que devora o planeta deixando bilhões de humanos com fome, têm implicado no que Herman Daly chama “crescimento deseconômico, produzindo males mais rapidamente do que bens, tornando-nos mais pobres, e não mais ricos”.
Os apoiadores da produção (aqui sim, produção) dessas armas de destruição em massa jamais dirão que extraem dióxido de carbono enterrado para injetá-lo na atmosfera, assim como os produtores de cigarros negaram enquanto puderam os males que seus produtos injetavam nos pulmões, inclusive espalhando muitas fake news, que então nem eram assim chamadas!
Algumas dessas bombas climáticas já estão ativas, outras em construção. Explodirão muito mais que o acordo de Paris! Este, então, foi só “pra inglês ver”? Vê-se que a expressão não é só brasileira; é bem mais geral.
E a opção pela vida, como fica?
É difícil mas me recuso a crer que seja impossível. Não sei o caminho, mas espero que, com amplo apoio, um forte, inteligente, dinâmico, determinado e urgente movimento daqueles que hoje têm menos de 40 anos, que não tinham vivido a “ameaça nuclear” até a atual guerra no leste da Europa, consiga impedir tais crimes contra a humanidade e demais seres vivos.