Principal representação do povo palestino no país fora do corpo diplomático, a Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal) tem sido o braço forte de atuação na divulgação das informações que chegam de faixa de Gaza desde o começo da guerra entre Israel e o Hamas. O presidente da entidade, Ualid Rabah, alega que Israel usa de sua força militar para fazer o que ele chama de “terrorismo de Estado” contra aos palestinos, com propaganda de guerra.
“Isso é propaganda de guerra. Sabe quantos palestinos morreram até hoje? Foram 22,3 para cada israelense. Nós sabemos o que é morrer. Há mortes, sim, na Palestina e há um genocídio em andamento contra o povo palestino, e os grandes veículos de comunicação do Brasil participam abertamente desse genocídio, com propaganda de guerra e fake news”, disse Ualid Rabah, em entrevista ao Congresso em Foco.
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Rabah, um paranaense filho de palestinos, acredita que os combates estão longe de terminar.
“Enquanto houver ocupação da Palestina, é evidente que, sem justiça ao povo palestino, não haverá paz na Palestina”.
Nessa quinta-feira (19), pousou no Brasil mais um voo trazendo brasileiros de Israel . Com ele, já são 1.135 pessoas retiradas de Israel, mas ainda há 28 brasileiros que estão na Faixa de Gaza e que não há previsão para retornarem ao Brasil. Para Rabah, a situação dos brasileiros no local é complicada a cada dia que passa.
“Até agora somente israelenses, brasileiros que moram em Israel, é que foram resgatados. Os palestinos não, por uma questão muito simples: eles vivem em um bloqueio promovido por Israel. E isso não começou ontem. Essa é mais uma faceta do bloqueio desumano promovido contra Gaza há 17 anos. Não há nenhuma situação análoga como está em toda a história humana. É por isso que esses brasileiros não estão sendo repatriados. Precisamos começar a enxergar o morticínio que é Gaza. Gaza é um campo de abate. É um experimento social genocida”.
PublicidadeNa análise do presidente da Federação Árabe-Palestina, ainda que o Brasil tenha feito esforços para a retirada do grupo da região da Palestina, o fato fica prejudicado com o apoio dos Estados Unidos a Israel. Na quarta-feira, os Estados Unidos vetaram a resolução apresentada pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU.
“O Brasil colide com os Estados Unidos neste ponto porque o Brasil condena a agressão de Israel, reconhece o Estado palestino e pede a aplicativa de todas as resoluções da ONU e de todo o direito internacional para os palestinos. É claro que quem segue os interesses políticos dos Estados Unidos não interessa ao Brasil, e a nenhum povo do mundo. Só Israel se beneficia”, afirmou ele.
Apesar de a guerra ter sido iniciada por meio de um ataque do grupo extremista Hamas a Israel, o presidente da Fepal não classifica as ações do grupo como terroristas. “Esse título de terrorista foi aplicado aos vietnamitas, ao Nelson Mandela, que ficou 27 anos preso por terrorismo. É evidente que o direito de resistência, galgado pela direita internacional e pelas potências internacionais, seja classificado como terrorismo. O Hamas é um grupo palestino”.
Segundo ele, o Hamas é resultado da ocupação do território palestino por Israel. “Quando os direitos políticos da Palestina forem retomados, inclusive com o direito de retorno dos refugiados, tudo isso acaba. Me surpreende as pessoas não classificarem o que Israel faz como terrorismo de Estado”.
As manifestações vindas por parte de Israel em relação à guerra estão entre as principais críticas da Federação Árabe-Palestina do Brasil, que acredita que elas estão se refletindo no governo. Na última quarta-feira, o presidente da EBC, Hélio Doyle, deixou o cargo depois de um postagem em que ele criticou quem defende Israel. O governo afirmou que não irá aceitar esse tipo de manifestação dos servidores.
“Se o presidente da EBC sofreu as consequências que sofreu ou, por, eventualmente, ter ultrapassado o verbo, é preciso que o governo brasileiro perceba os nazifacistas que estão travestidos de defensores de Israel aqui no Brasil. Eles são um perigo e podem virar sabotadores internos por defenderem interesses estrangeiros alheios aos interesses nacionais.
Nesta semana, a federação pediu formalmente ao governo federal para que o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, seja expulso do país. O governo, contudo, tem mantido neutralidade nas relações diplomáticas. Na semana passada, o Itamaraty divulgou nota explicando por que o governo brasileiro não chama o Hamas de terrorista.
Segundo o ministério, o Brasil segue as determinações do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que tem suas listas de indivíduos e organizações consideradas terroristas — e nas quais o Hamas não está incluído. O Brasil está em uma das dez vagas não-permanentes do Conselho de Segurança. Hoje, ocupa também a presidência rotativa do conselho, em um mandato que começou em outubro e vai até o final do ano.