Uma ex-funcionária do Facebook acusa a empresa de ignorar ou ser lenta ao tratar de evidências de manipulação global ocorridas dentro das suas redes sociais. Essas medidas prejudicaram ou interferiram em eleições e assuntos globais em todo o mundo – incluindo as eleições de 2018 no Brasil. As informações são do portal norte-americano BuzzFeed News, publicadas nessa segunda-feira (14).
A matéria, assinada por três repórteres, se baseia em um memorando de Sophie Zang, cientista de dados no Facebook demitida recentemente da empresa. Zang afirma que encontrou tentativas “múltiplas e flagrantes” de governos para abusar das funcionalidades das plataformas da empresa em larga escala, e que ela própria foi obrigada a tomar decisões que afetaram a ação de presidentes e inúmeros políticos proeminentes. “Eu tenho sangue nas mãos”, disse ela, de acordo com o site.
Sophie afirma que, durante as eleições de 2018 nos Estados Unidos e no Brasil, foi necessário apagar mais de 10,5 milhões de interações feitas por perfis falsos em páginas de políticos – o relato não é preciso sobre que ações foram tomadas em cada país.
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No caso do Brasil, o relato fala em candidatos “de alto escalão e de todos os espectros políticos”, enquanto nos EUA, que passavam por eleições parlamentares e estaduais, a manipulação ocorria por interferência de “políticos de baixo escalão”. A cientista de dados também apontou uma rede de perfis falsos espalhando desinformação sobre a covid-19 dentro do Facebook.
Outros exemplos apresentados por Sophie Zang na matéria indicam casos concretos, mas que remetem a padrões já rotineiros em todo mundo: em Honduras, a empresa teria levado nove meses para agir em uma rede de milhares de contas falsas ligadas ao presidente do país, Juan Orlando Hernández; o Facebook teria levado ainda mais tempo – um ano – para agir no Azerbaijão, onde contas inautênticas ligadas ao partido dominante teriam como missão assediar membros da oposição no ambiente virtual; 672 mil contas falsas teriam sido desativadas por espalhar desinformação sobre o coronavírus,
PublicidadeHá ainda relatos concretos de manipulação na Índia, no Equador e na Bolívia, além de menções ao Iraque, à Itália, à Indonésia e a El Salvador, além de uma denúncia sobre manipulações promovidas pela Rússia, vinda de agentes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
No Brasil, desde a eleição de outubro de 2018, pairam suspeitas sobre o uso ilegal e massivo de redes sociais com o objetivo de impulsionar candidaturas. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa o disparo de mensagens por Whatsapp – também uma empresa do Facebook – por apoiadores da campanha de Jair Bolsonaro, o que poderia configurar crime eleitoral.
Há também a suspeita do uso coordenado de robôs no Facebook e no Twitter para impulsionar temas e debates, prática adotada até hoje por todos os lados do espectro político.
Por meio de nota, o Facebook afirmou que trabalhar contra esse tipo de comportamento é prioridade da empresa.
Leia a íntegra da nota do Facebook
“Temos equipes especializadas e trabalhamos com especialistas para impedir que pessoas mal intencionadas abusem as nossas plataformas, o que já resultou na remoção de mais de 100 redes por comportamento inautêntico coordenado. Trabalhar contra esse tipo de comportamento é nossa prioridade, assim como também estamos endereçando problemas de spam e engajamento falso. Investigamos cada uma dessas questões com muito cuidado, incluindo as levantadas pela Srta. Zhang, antes de agirmos ou antes de falarmos publicamente sobre o tema enquanto empresa”.
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