As primeiras notícias que li sobre os sequestros da CIA logo após o 11 de setembro de 2001 (atentado ao World Trade Center) foi no Le Monde Diplomatique de língua espanhola. No resto da mídia e do mundo, só silêncio. Os meios de comunicação privados, conhecidos como grande imprensa, na maioria das vezes colaboradores ou coniventes com as ditaduras e abusos dos Estados Unidos, nada ou pouco falavam sobre o tema até bem recentemente.
Entre o fim de 2012 e o início deste ano, começaram a pipocar aqui e ali algumas notícias na mídia oficial do capitalismo (as empresas privadas de comunicação) sobre esses sequestros, até que no mês de fevereiro passado o The Washington Post publicou um mapa-múndi e coloriu de vermelho os países que participaram do programa de “sequestros extraordinários” executados pela CIA.
Certo que não li muito, mas a melhor matéria que li foi publicada no Página 12. Informa o jornal argentino, na matéria “América latina escapó a la CIA esta vez”, que essa investigação foi feita pela Open Society Foundations (OPF) com sede em Nova Iorque, fundada e presidida pelo bilionário George Soros. Não imaginava que Soros fosse um dia denunciar esses fatos.
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Segundo a matéria do Página 12, a CIA conseguiu que 54 dos 190 governos do mundo colaborassem com o seu programa de sequestros. A colaboração consistia em permitir que a CIA entrasse no país, investigasse pretensos terroristas, os prendesse e os sequestrasse. Sequestrados, eram levados para países onde a tortura é permitida. Claro que lá eram torturados até que confessassem serem terroristas.
A colaboração/participação variava de governo para governo. A Polônia e a Lituânia permitiram que a CIA usasse prisões secretas em seus territórios. Alguns países do Oriente Médio, Europa e Ásia entregavam suspeitos à agência norte-americana. Já na Jordânia os próprios agentes locais prestavam o serviço completo: interrogavam e torturavam os suspeitos por conta da CIA.
No rol da cooperação estavam a Espanha e a Grécia, que permitiram o uso de seus aeroportos para fazer o transporte destas cargas “extraordinárias”. Inclusive a insuspeita Suécia entregou dois prisioneiros à CIA, que os levou ao Egito.
PublicidadeJuan Gelman, autor do artigo “América latina escapó a la CIA esta vez” chama a atenção para um fato curioso: a Síria e o Irã também colaboraram. Afirma ele que o informe da OPF dá como certo que o “Irã esteve envolvido na captura e entrega de indivíduos que foram logo prisioneiros da CIA. Em março de 2002, o governo iraniano transferiu quinze pessoas ao governo do Afeganistão, o qual entregou dez deles ao governo dos Estados Unidos. Ao menos seis foram postos em custódia em um centro de detenção secreta da CIA no Afeganistão”.
No mapa-múndi publicado pelo The Washington Post, nenhum país da América Latina está pintado de vermelho. Não que os EUA não quisessem e não tenham insistido junto aos governantes da região para que colaborassem. Essa colaboração não ocorreu por aqui porque os governos da região rejeitaram o pedido norte-americano. É bom lembrar que os governantes que rejeitaram são: Lula, Kirchner, Tabaré, Chávez, Evo Morales, Correa etc., a maioria da esquerda democrática.
Um dos casos mais conhecidos de sequestro foi o do clérigo Hassan Mustafa Osama Nasr, sequestrado em Milão e enviado ao Egito, onde foi torturado. Mustafa foi sequestrado em 2003, quando caminhava por uma rua de Milão. Foi acusado de recrutar combatentes para grupos islâmicos, o que nunca foi comprovado.
Por esse sequestro, a mais alta corte da Itália identificou os que cometeram o crime e os condenou. Em setembro de 2012, foram condenados 23 norte-americanos (22 agentes da CIA e um ex-piloto da Força Aérea) e dois espiões italianos. Os agentes da CIA foram julgados à revelia.
O governo dos EUA não aceita que seus criminosos sejam julgados fora de seu país, mesmo quando o crime é cometido em outro território, como é o caso, que não o norte-americano.
Os EUA não assinaram o Estatuto de Roma, portanto não estão sujeitos ao Tribunal Penal Internacional, sendo assim não há uma instância judicial internacional que possa julgá-los e tampouco os Estados Unidos o farão.
Os EUA sequestram, torturam e condenam, sem o legítimo direito à defesa. E nem o Estado norte-americano, nem aqueles que praticam tamanha violência em nome desse Estado, foram ou virão a ser julgados.