Nas últimas semanas, autoridades e destacados membros do setor empresarial dos Estados Unidos têm sinalizado para diferentes integrantes do establishment brasileiro que o governo norte-americano não vai tolerar qualquer interferência indevida no processo eleitoral por parte do presidente Jair Bolsonaro e dos seus seguidores.
O recado chegou a representantes do Legislativo, do Judiciário e do Executivo brasileiro, incluindo a cúpula das Forças Armadas, mas também a empresários e a executivos de grandes organizações empresariais. A mensagem é clara: infrações graves ao processo institucional por parte do governo brasileiro ou dos seus aliados, durante a realização das eleições ou após a divulgação dos resultados eleitorais, levarão os EUA a rever suas parcerias com o país, a retirar o apoio ao plano do Brasil de se transformar em membro da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e até mesmo a aplicar sanções comerciais.
“É uma posição consistente tanto com a política interna quanto com a política externa dos Estados Unidos”, afirma Paulo Abrão, diretor-executivo do Washington Brazil Office (WBO), ONG pró-democracia que tem feito um intenso trabalho em Washington DC, onde está sediada, para prevenir as autoridades estado-unidenses sobre os riscos que o Brasil corre. Como se sabe, Bolsonaro e seus seguidores mais radicais dedicam-se há meses à missão de desacreditar as urnas eletrônicas e as pesquisas eleitorais, que dão favoritismo ao ex-presidente Lula.
Leia também
Para os Estados Unidos, uma eventual ruptura institucional em um país da dimensão do Brasil seria um péssimo exemplo, colocando em risco a própria estabilidade da democracia no mundo. Paulo lembra que a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando aliados do ex-presidente Donald Trump tentaram impedir a posse do presidente eleito Joe Biden, permitiu que o governo daquela nação respondesse com muita firmeza àquela frustrada tentativa de golpe. Mais de cem pessoas que participaram do ataque ao Congresso norte-americano estão presas e o assunto é objeto de uma investigação profunda a cargo do próprio Legislativo.
“Todos os diálogos que tivemos com os interlocutores do Congresso americano e da administração Biden têm sido assertivos em reiterar a confiança no nosso sistema eleitoral e em nossas instituições democráticas, e muito contundentes de que os resultados eleitorais têm que ser respeitados incondicionalmente e que qualquer intervenção no processo eleitoral terá consequências”, prossegue Paulo Abrão.
Ainda repercute muito mal nos meios diplomáticos brasilienses a reunião em que Bolsonaro juntou embaixadores para lançar suspeitas sobre as eleições brasileiras usando informações falsas. Mas parece prevalecer o sentimento de que (1) Lula derrotará Bolsonaro e (2) o resultado será respeitado.
Muito grande tem sido a busca do corpo diplomático por informações quanto ao possível comportamento da cúpula militar na hipótese de vitória petista. Nesse aspecto, os retornos são tranquilizadores, com reiteradas demonstrações de que o Alto Comando do Exército, que costuma dar o tom dos posicionamentos militares, nem cogita de apoiar qualquer ato de “subversão do processo eleitoral”.
De qualquer maneira, é forte a mobilização de entidades da sociedade civil brasileira para evitar maiores problemas. Além dos frequentes casos de violência política praticados contra adversários de Bolsonaro, há temor de que ocorram tumultos durante a votação em primeiro turno, no próximo dia 2.
Quem tem atuado nessa linha de frente é o Pacto Pela Democracia, que reúne mais de 200 organizações comprometidas com a defesa do Estado Democrático de Direito. “Estamos trabalhando com o Ministério Público e com os governadores para que as forças de segurança, incluindo as Polícias Militares, cumpram o seu papel”, diz Pedro Kelson, coordenador do Pacto.
Este blog procurou a embaixada norte-americana em Brasília, mas até o momento não recebeu dela nenhuma manifestação sobre o assunto.