Em discurso por videoconferência nesta quarta-feira (23), o presidente Lula fez uma cobrança a chefes de Estados reunidos em Kazam, na Rússia, para a Sessão Plenária Aberta da Cúpula dos Brics (sigla para o bloco que reúne, além do Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul), sobre a urgência das mudanças climáticas. Ao avaliar como “incontornável” o envolvimento dos países do bloco na luta contra a degradação do meio ambiente, Lula indicou que os maiores responsáveis pela crise do clima são os países mais ricos.
Ele cobrou que os países mais desenvolvidos atuem para além dos US$ 100 bilhões definidos para o financiamento de países mais pobres para o desafio climático. Prometido em 2009 na chamada COP 15, a cúpula sobre mudanças climáticas realizada na Dinamarca, o compromisso só foi cumprido em 2022, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ou seja, mais de uma década depois da celebração do acordo.
“O Brics é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima. Não há dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática que nos aflige hoje. É preciso ir além dos US$ 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos, e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Também cabe aos países emergentes fazer sua parte para limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio”, observou.
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Recuperando-se de acidente doméstico no último sábado (19), o petista também defendeu que sejam criados meios alternativos para o pagamento de transações comerciais entre os países do bloco econômico, como meio de redução das diferenças no contexto do sistema financeiro internacional.
“Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional. Essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada”, argumentou Lula, que está representado na Rússia pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
O presidente também abordou a questão das guerras no leste europeu e nas fronteiras da Faixa de Gaza, tema que gera divergências entre os países do bloco. Citando os conflitos protagonizados por Israel, que promove ofensivas em várias frentes no Oriente Médio, e entre Ucrânia e Rússia, membro do bloco econômico, Lula advertiu que os confrontos têm potencial para se agravar excessivamente.
“Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia. No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, acrescentou.
Relações comerciais
Lula afirmou que o Brasil, ao assumir a presidência do Brics, irá buscar por relações menos desiguais entre países. “Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. […] Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas. É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido. As iniciativas e instituições do Brics rompem com essa lógica”, destacou.
Lula não deixou de mencionar pautas comuns em seus últimos pronunciamentos: o combate à fome e a taxação dos super-ricos. Ambos os temas são defendidos pelo país junto ao G20, grupo das maiores economias do mundo e que é presidido pelo Brasil.
“Quero agradecer o apoio que os membros do grupo têm estendido à presidência brasileira do G20. Seu respaldo foi fundamental para avançar em iniciativas que são fundamentais para a redução das desigualdades, como a taxação dos super-ricos. Nossos países implementaram nas últimas décadas políticas sociais exitosas, que podem servir de exemplo para o resto do mundo”, declarou.
“A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza já está em fase avançada de adesões. Convido todos a se somarem à iniciativa que nasceu no G20, mas está aberta a outros participantes”, completou.
Vacinas e IA
O presidente também defendeu que é preciso ampliar o acesso de países mais pobres a vacinas e tecnologias, tal qual a inteligência artificial. “Não podemos aceitar a imposição de ‘apartheids’ no acesso a vacinas e medicamentos, como ocorreu na pandemia, nem no desenvolvimento da inteligência artificial, que caminha para tornar-se privilégio de poucos.”
“Precisamos fortalecer nossas capacidades tecnológicas e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes, em que a voz dos governos prepondere sobre interesses privados”, finalizou.
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