Como prometido, inicio hoje a série de seis artigos sobre as grandes correntes de pensamento que moveram as lutas políticas nos últimos séculos. Começamos com o pensamento conservador. Por quê? Atualmente, muitos brasileiros, por razões diversas, se autodefinem como conservadores.
A emergência do conservadorismo é filha no campo político de três grandes revoluções: da Revolução Gloriosa, na Inglaterra, no final do século XVII; da Revolução Americana, nos EUA, a partir de 1776, e, da Revolução Francesa, iniciada em 1789. Do ponto de vista econômico, da Revolução Industrial inglesa, na segunda metade do século XVIII, com a emergência do capitalismo industrial. No ângulo das religiões, da Reforma Protestante e a Contrarreforma católica. No campo cultural, do Iluminismo, idade da razão, e do deslocamento do teocentrismo para colocar o ser humano como centro da vida. Em resumo, uma longa transição da sociedade feudal, da monarquia absoluta, do mundo agrário e rural, da condenação da usura, da simbiose entre Estado e Igreja, para o nascimento do capitalismo, da democracia moderna, do universo urbano-industrial, das novas tecnologias produtivas e as novas relações de produção, do Estado laico, da legitimação do individualismo e do lucro como motores do desenvolvimento.
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Inicialmente, a transição resultou na polarização entre conservadorismo e liberalismo, até que convergiram, mantidas as diferenças de concepção, no combate ao nascente movimento socialista.
O conservador defende as coisas permanentes, o contrato primitivo da sociedade eterna, o pacto entre Deus e as gerações do passado, do presente e do futuro. Advoga a conservação de princípios fundamentais e a promoção de reformas prudentes. Não se confunde com o tradicionalismo reacionário e antiliberal.
Enxergam os reacionários como os que querem sacrificar o futuro em nome da restauração de uma visão idílica do passado. Mas condenam o ímpeto revolucionário dos progressistas, que querem romper com o passado e o presente em nome da criação utópica de um outro mundo possível. Endossam princípios democráticos como a soberania popular relativa, o governo constitucional, os freios e contrapesos, as eleições, mas não a ideia de um contrato social que privilegie a liberdade em prejuízo da ordem e das responsabilidades, segundo eles, para qualificar o individualismo liberal. A ênfase nas diversas equações dos conceitos de liberdade, igualdade, tradição, ordem, responsabilidade, vai dividir conservadores e liberais por dois séculos.
Numa versão ampliada de um conservador contemporâneo poderia se dizer que o conservadorismo moderno começou com a defesa da tradição contra as reivindicações de soberania popular e se tornou um apelo em nome da religião, da família, dos costumes, do “Common Law”, da alta cultura contra a doutrina materialista do progresso. Permanecem na convicção de que as coisas boas são mais facilmente destruídas que criadas e na determinação de conserva-las, em face de mudanças politicamente arquitetadas.
PublicidadePara quem quiser ser introduzido no pensamento conservador recomendo a leitura de dois livros do pensador inglês Roger Scruton, “Conservadorismo, um convite à grande tradição” e “Como ser um conservador”, e do intelectual norte-americano, Russel Kirk, “Edmund Burke, redescobrindo um gênio”.
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