“Você é pó e ao pó voltará” (Gn 3, 19, Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, Paulus, 1991). Essa frase bíblica é conhecida e muito citada. E cito-a para parafraseá-la: “você veio da África e à África voltará”. Certo que forço a barra, mas até o final o leitor entenderá.
Li a revista Samuel, número dez, de julho/agosto de 2013. A Samuel traz como matéria de capa o tema do envelhecimento. Necessário: o nome da revista é uma homenagem de Breno Altman (editor da revista) ao jornalista Samuel Wainer. Ela reproduz artigos e textos de jornais, revistas, sites e blogs nacionais e internacionais e está na sua décima edição.
O site da revista informa que “entre 1950 e 2012 o número de habitantes do mundo mais que duplicou: de 2,5 bilhões em 1950, somos mais de 7 bilhões em 2012”. “No Brasil, no mesmo período, a população quase triplicou, registrando 194 milhões de habitantes”. Segundo o IBGE, já passamos de 200 milhões.
Ao ler essas informações, sem nenhuma reflexão profunda, alguns podem fazer a pergunta: onde vamos parar? E imediatamente concluir que Malthus estava certo.
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Thomas Malthus viveu no século XIX e tinha como hipótese que a população cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos em progressão aritmética, ou seja, não teria como o mundo alimentar a todos. A hipótese, por várias razões, não se confirmou. Sem entrar em explicações, um dos motivos para que a hipótese de Malthus não se confirmasse foi o avanço da ciência e da tecnologia.
Esses avanços proporcionaram o aumento da produção de alimentos. Também contribuiu para a diminuição do número de filhos por casal e o aumento da expectativa de vida. “A expectativa de vida dos brasileiros aumentou de 67 para 72,5 anos entre 1991 e 2007, e deve chegar a 74,8 anos em 2015” (“Um país de cabeça branca”, Samuel, nº 10, pág. 9). Para se ter uma ideia, os que, como eu, nasceram em 1950, tinham uma expectativa de vida próxima a 50 anos. Há de se perguntar: já estamos vivendo de lambuja?
PublicidadeSe no período de 1950 a 2012, a população brasileira quase triplicou, o número de pessoas com mais de 60 anos cresceu ainda mais. Isso significa que os governos terão de preparar o país para esta nova realidade: maiores gastos, principalmente com saúde e acessibilidade. Mas não é disso que quero tratar.
Volto à questão demográfica: em 2000, 20,3% da população da Europa tinha mais de 60 anos; nos EUA, 16,2%. No Brasil, o porcentual era de 8,6% da população, aumentando para 10,5% em 2010.
Em contrapartida ao envelhecimento, a taxa de fecundidade na maior parte do mundo, inclusive no Brasil, tem caído. De acordo com o último Censo, a taxa de fecundidade no Brasil é de 1,9 filho por mulher. Esta taxa caiu de 6,16, em 1940, para 1,9, entre 2000 e 2010. Esse índice (1,9) está abaixo da taxa de equilíbrio populacional, ou seja, para a população continuar crescendo, a taxa mínima de fecundidade é de 2,1. Para explicitar: um casal (duas pessoas) tem que gerar mais que dois filhos para a população continuar crescendo.
Nos Estados Unidos, China, Rússia, Japão e alguns países europeus (Alemanha, Itália e Hungria), por exemplo, a taxa de fecundidade é ainda menor que a brasileira. Ou seja, nesses países morre mais gente do que nasce. No Japão, a população diminuirá 14% nos próximos 40 anos.
Hoje muitos desses países necessitam de migrantes para estabilizarem suas populações. Rússia e Japão precisam de cerca de 350 mil e 230 mil migrantes, respectivamente.
Os países que hoje têm uma taxa de fecundidade superior a 2,0 são os africanos e a Índia. Esses países terão as maiores populações e, se investirem na educação, ciência e tecnologia, serão eles que no futuro fornecerão os trabalhadores qualificados para os países que hoje demograficamente decrescem. Ou seja, poderão, pelo conhecimento, dominar o mundo. Portanto, como de lá viemos, para lá voltaremos.