Não especificam a vista de que pássaro, a que velocidade e a que altura. Não o fazem até porque cada espécie de pássaro voa a uma velocidade diferente, e cada uma delas tem velocidade máxima. Cada espécie tem uma altura específica para voar e planar.
O poético do “a vista de pájaro” é o pássaro parado, planando, passeando e observando. Coisa impossível de ser feita em meia dúzia de dias e à velocidade que fiz.
Enquanto o livro traz fotos “a vista de pájaro”, eu procurei fazer uma foto “a vista de 300 km/hora”. Minha foto nesta velocidade não tem como ser nítida. Meus olhos não têm a técnica de nenhuma máquina eletrônica, e tampouco a minha velocidade e altura possibilita “a vista de um pájaro”. Meu voo foi ao rés do chão ou a poucos metros acima.
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Uso o termo “a vista de 300 Km/hora” e ao rés do chão porque assim foi minha viagem. Poucos dias, portanto pouco debate, pouca leitura e, consequentemente, pouca informação. Além disso, o devido cuidado, porque não conheço a história de uma civilização milenar.
Fui à China através do professor Evandro Menezes de Carvalho, que pessoalmente e através de seu artigo “A China e seus dois Ocidentes. Qual é o nosso…”, publicado na revista China Hoje, muito me ensinou em tão poucos dias.
Avisa o professor: há todos os tipos de clichês. ”A China confusionista, do chinês mal-educado, da culinária peculiar”, e se ficarmos com os clichês ficaremos com “um país que não existe”. Tive a oportunidade de fazer uma viagem de trem de Pequim a Shangai. Durante a viagem, li um pouco sobre a China e fiz algumas anotações do que vi em um trem a 300 quilômetros por hora.
A China mantém relações políticas com o Brasil há mais de 200 anos. Há que se registrar que em 1812 a China montou um pavilhão no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, portanto no Brasil imperial. Hoje, mantemos com a China uma forte relação comercial, e ela é a principal compradora de commodities do Brasil.
Fui a China a convite da Universidade Fundan, de Shangai, para debater os Brics (bloco de países constituído por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Tal convite demonstra o interesse, não só pelo Brasil, mas pelo Mercosul.
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA eram ‘donos’ de mais de 50% do Produto Interno Mundial. Hoje, respondem por menos de 20% e a China tem um peso relevante. Nenhuma decisão de relevância, em qualquer assunto internacional, é tomada sem levar em consideração os Brics. Se antes era um grupo de sete (G7) países que decidiam o destino do mundo, hoje é o G-20, do qual o Brasil (com Lula e Dilma) faz parte e é um dos fundadores.
Antes, tínhamos o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional que decidiam, hoje temos o Banco dos Brics (constituído no governo Dilma), que será uma alternativa à velha arquitetura financeira.
Pouco vi, mas alguma coisa vi a ‘300 por hora’. Vi um território com inúmeras construções (edifícios, pontes, viadutos, dutos, rodovias, ferrovias, etc.); cortado por torres de transmissão de energia (a China é a maior consumidora do mundo) e de comunicação; plantações com e sem irrigação e em estufas; sistemas de captação de energia eólica e solar; trens de alta e baixa velocidade, de passageiros e de carga. Só não vi espaços vazios.
Vi também muita vontade de trabalhar com o Brasil, os Brics, o Mercosul e a América Latina.
Após, mesmo tendo ficado poucos dias e ter participado de poucas, ou seja, ter vivido tudo a ‘300 por hora’, volto da China com a mesma pergunta do artigo de Evandro Carvalho, qual dos Ocidentes é o nosso?
A resposta a esta pergunta somos nós que temos que dar. Somos nós, Brasil e Mercosul, que teremos que responder.
Se quisermos alcançar uma velocidade de 300 por hora e um mundo multipolar, temos que saber escolher os aliados.