O júri popular do 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro decidiu, nesta quinta-feira (31), pela condenação dos ex-policiais fluminenses Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de executar o assassinato da vereadora Marielle Franco, do Psol, em 2018. O primeiro foi condenado a 78 anos e nove meses de prisão, enquanto o segundo foi a 59 anos e oito meses.
Os réus estavam presos preventivamente desde 2019, ano seguinte ao do assassinato. Em seu depoimento e também em sua delação premiada à Polícia Federal. Em seu depoimento, Lessa afirmou ter recebido uma oferta de R$ 25 milhões para assassinar Marielle, e teria recrutado Queiroz para auxiliar no atentado, que também resultou na morte do motorista da vereadora, Anderson Gomes.
O julgamento contou com mais de 13 horas de audiências, em que o júri ouviu tanto os dois criminosos, que se pronunciaram de dentro dos presídios por videoconferência, quanto parentes de Marielle Franco, peritos criminais e outros agentes de segurança que participaram das investigações. A sentença foi proferida pela juíza titular Lúcia Glioche.
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A magistrada ressaltou que a sentença não deverá servir apenas de recado aos réus confessos, mas “para os vários Ronnies e vários Élcios que existem por aí, soltos”. “A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta, mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que jamais vão ser atingidos pela Justiça. Com toda dificuldade de ser interpretada e vivida pelas vítimas, a Justiça chega aos culpados e tira deles o bem mais importante depois da vida, que é a liberdade”, declarou.
Ela também destacou os efeitos do assassinato sobre as pessoas do entorno de Marielle. “Dizemos que vítimas do crime de homicídio são aqueles que ficam vivos, precisando sobreviver no esgoto que é o vazio de permanecer vivo sem a vida daquele que foi arrancado do seu cotidiano. (…) Homicídio é um crime traumatizante — finca no peito uma dor que sangra todo dia, uns dias mais, uns dias menos, mas todos os dias. A pessoa que é assassinada deixa uma falta, uma carência, um vácuo que nenhuma palavra descreve”, apontou.
Além da prisão, Lessa e Queiroz deverão pagar, de forma solidária, uma indenização de R$ 706 mil aos parentes próximos de Marielle e Anderson, além de uma pensão permanente ao seu filho, Arthur, até que ele complete 24 anos.
Dentre as testemunhas, estava a sua irmã, Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial. Ela se pronunciou junto às demais familiares das vítimas após o julgamento. “A gente sempre falou desde o começo que a gente não ia desistir, que não ia parar enquanto, minimamente, a justiça começasse a ser feita. (…) A luta continua ainda. A gente não vai parar aqui, ainda tem muita coisa pela frente”, garantiu, considerando a pena de Lessa e Queiroz como “um pedaço de uma resposta”.
Anielle chamou atenção para a repercussão do crime, relembrando a projeção internacional do atentado contra a vereadora. “O maior legado da Marielle, que ela deixa para esse país, é a prova que mulheres, pessoas negras, faveladas, quando chegam em seus postos merecem permanecer vivas. Quando assassinaram a minha irmã com aqueles quatro tiros na cabeça, eles não imaginavam a força que nesse país se levantaria, que nesse mundo se levantaria”.
A líder da bancada da federação Psol-Rede na Câmara, Erika Hilton (Psol-SP), também se pronunciou, defendendo a continuidade das investigações. “Sabemos que isso é apenas uma etapa para a responsabilização dos criminosos pelas mortes, e restam as condenações dos mandantes e quaisquer outras pessoas envolvidas.E sabemos, também, que isso não é Justiça de fato. O justo e correto seria que Marielle e Anderson ainda estivessem aqui”, disse em nota.