Na eleição de 2022, nenhum parlamentar bolsonarista melhorou tanto o seu desempenho nas urnas como a deputada reeleita Carla Zambelli (PL-SP). A militante pró-impeachment de Dilma Rousseff e fundadora do movimento Nas Ruas, multiplicou por 12 a votação que recebeu em 2018 e se reelegeu com quase 950 mil votos. Dona da terceira maior votação entre os 513 deputados da próxima Câmara, Zambelli colhe os frutos eleitorais de sua fidelidade ao presidente Jair Bolsonaro. Tamanha proximidade também levou a deputada a virar alvo da campanha do ex-presidente Lula (PT).
Em ação encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a coligação do petista pede a cassação do mandato de Bolsonaro e outros políticos, sob a acusação de integrarem um “ecossistema de desinformação” para disseminar fake news e tumultuar o processo eleitoral ao contestar as urnas eletrônicas. A ação foi acolhida pelo TSE e está em andamento.
“Em momento algum fiz fake news“, diz a deputada, que também é alvo do inquérito que apura a atuação de milícias digitais no Supremo Tribunal Federal, ao Congresso em Foco. “Não foi fake news. Ainda que se tivesse sido fake news, vocês vão me desculpar, a pessoa que tem imunidade parlamentar tem imunidade para quaisquer palavras, opiniões e votos. Não faltei com decoro”, acrescenta a deputada, que também teve conteúdo retirado das redes nos últimos dias por determinação do TSE.
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Nesta entrevista, Zambelli projeta como seria seu comportamento no Congresso em um eventual governo Lula e reforça o discurso de Bolsonaro de distanciamento do ex-deputado e ex-presidente do PTB Roberto Jefferson, que atirou com fuzil e arremessou granada contra policiais federais no último fim de semana ao ser preso após violar as regras da prisão domiciliar. A pesquisa eleitoral da Quaest publicada na mesma semana apontou um aumento de três pontos no índice de rejeição do presidente às vésperas do segundo turno das eleições, fenômeno associado à antiga amizade entre os dois ex-deputados. Carla Zambelli afirma que, a partir daquele momento, Jefferson se tornou um adversário definitivo de Bolsonaro e seus aliados.
Segundo ela, Jefferson nunca compôs o time da campanha de Bolsonaro. “Acho que essa informação cada vez mais vai chegando aos olhos e ouvidos das pessoas. E no momento em que Roberto Jefferson atirou contra a polícia, ele passa de qualquer forma a ser um adversário, e nunca um aliado”, declarou a deputada.
De acordo com Zambelli, a relação entre o presidente e o ex-deputado não era mais a mesma nos últimos meses. “Em setembro, ele processou o presidente Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal dizendo que ele cometeu o crime de prevaricação. Roberto Jefferson acredita em intervenção militar. A tentativa dele se tornar candidato também arranhou um pouco a relação. Veio Padre Kelmon para dar uma suavizada nessa relação, o que eu acho que funcionou, mas fato é que Roberto Jefferson nunca foi aliado de primeira hora do presidente. Em momento nenhum coordenou qualquer parte da campanha”, relatou. No debate da TV Globo nessa sexta-feira, Bolsonaro tentou colar a imagem de Jefferson em Lula, ao lembrar que o petebista foi condenado no processo do mensalão, omitindo a notória proximidade entre ele e o petebista.
PublicidadeConfira a fala da deputada sobre a relação de Bolsonaro e Roberto Jefferson:
Enquanto deputado, Bolsonaro foi filiado ao PTB, chegando a garantir uma vaga para seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), como assessor na liderança do partido. Na época, Eduardo tinha apenas 18 anos e ainda fazia faculdade no Rio, enquanto o emprego era em Brasília. Como presidente, Bolsonaro manteve encontros com Jefferson, chegando a cogitar a possibilidade de retornar ao seu partido depois do rompimento com o PSL (atual União Brasil). Em agosto de 2021, Jefferson foi preso preventivamente sob a acusação de chefiar uma milícia digital para atentar contra os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Desde então, Bolsonaro passou a se afastar do antigo aliado, que, em carta escrita na prisão, queixou-se do fato de o presidente ter se conformado com a decisão judicial e não ter lhe prestado solidariedade.
Retomada de alianças
Se de um lado a campanha de Bolsonaro passou a enxergar Roberto Jefferson como adversário, do outro, recuperou um antigo aliado: o ex-ministro da justiça Sergio Moro, que rompeu com o governo em 2020, afirmando que o presidente tentava interferir nas atividades da Polícia Federal para se proteger contra investigações. Candidato a senador (posteriormente eleito), Moro se tornou defensor da reeleição de Bolsonaro, e o assessorou nos debates do primeiro turno.
Com Zambelli, o rompimento foi mais profundo: até então, os dois mantinham amizade próxima, com Moro tendo apadrinhado o casamento da deputada. Com a saída de Moro do ministério, a relação passou a ser de rivalidade, com a parlamentar constantemente acusando o ex-juíz da Operação Lava Jato de ter traído o governo.
Na entrevista, Zambelli conta não ter se encontrado ainda com o senador eleito e considera improvável a reconstrução da relação pessoal, mas avalia a aproximação como algo necessário para a campanha de Bolsonaro. “A participação dele nesse segundo turno é muito importante para aquelas pessoas que tenham ficado chateadas com o presidente Bolsonaro na saída do Sergio Moro como ministro da justiça”, avaliou.
No seu entendimento, a relação entre aliados do presidente no período eleitoral se assemelha ao tratamento entre soldados do mesmo lado em uma situação de guerra. “Temos dois polos, o polo do Lula e o polo do Bolsonaro. A gente precisa olhar para o nosso lado, para essa trincheira, e esquecer as diferenças. O lado de cá precisa abaixar as armas para quem está nessa trincheira”, comparou.
Confira a seguir os principais pontos da entrevista: