A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffman (PT-PR), informou que vai pedir ao Senado que convoque a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para explicar sua atuação no episódio que resultou na permanência do ex-presidente Lula na prisão, em Curitiba, contrariando um habeas corpus dado em julho por um desembargador plantonista para que ele fosse posto em liberdade.
“Raquel Dodge tem explicações a dar ao Senado da República. Qual a justificativa para ligar na PF do Paraná determinando não cumprir ordem judicial, ignorando caminho processual. Espero que o Senado aprove a convocação que iremos apresentar e a investigação sobre seu abuso de autoridade”, escreveu Gleisi No Twitter.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Garollo, revelou ter recebido um telefonema da procuradora-geral da República logo depois da decisão do desembargador plantonista Rogério Favreto de soltar o ex-presidente. A libertação foi contestada pelo juiz Sérgio Moro e impedida pelos desembargadores Gebran Neto e Thompson Flores, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). A PF, porém, pretendia libertar Lula, admitiu o policial.
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“Diante das divergências, decidimos fazer a nossa interpretação. Concluímos que iríamos cumprir a decisão do plantonista do TRF-4. Falei para o ministro Raul Jungmann [Segurança Pública]: ‘Ministro, nós vamos soltar’. Em seguida, a [procuradora-geral da República] Raquel Dodge me ligou e disse que estava protocolando no STJ [Superior Tribunal de Justiça] contra a soltura. ‘E agora?’ Depois foi o [presidente do TRF-4] Thompson [Flores] quem nos ligou. ‘Eu estou determinando, não soltem’. O telefonema dele veio antes de expirar uma hora. Valeu o telefonema”, contou Garollo em entrevista à repórter Andreza Matais.
Em resposta à entrevista, o PT divulgou nota em que critica o “festival de parcialidade, ilegalidade e perseguição” contra o ex-presidente Lula e exige que “o Conselho Nacional de Justiça, o Ministério da Justiça e o Senado da República, responsável pela aprovação de Dodge no cargo, se pronunciem vigorosamente sobre as violações cometidas – e confessadas publicamente – por agentes do estado que deveriam defender a lei e fizeram o oposto”.
Na entrevista, o diretor da PF também afirmou que a polícia se preparava para invadir, com 30 homens, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista para prender o ex-presidente, em abril. A operação, segundo ele, foi abortada no último instante, porque o petista se entregou no último minuto.
Publicidade“Quando deu 17h30, eu liguei para o negociador e disse: ‘Acabou! Se ele não sair em meia hora nós vamos entrar’. E dei a ordem para entrar. Às 18h, ele saiu”, relatou Galloro sobre o fim da tarde do dia 7 de abril, um sábado, quando Lula foi preso.