Na manhã desta segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, recebeu deputados distritais da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para estabelecer uma parceria com a CPI que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro. Na reunião com parlamentares, o ministro contou que parte dos envolvidos na depredação às sedes dos três poderes estava recebendo dinheiro para estar na manifestação.
“Ele falou que muita gente foi instrumentalizada, utilizada e financiada para estar nos atos golpistas do dia 8. Tivemos por exemplo 50 pessoas que estavam em situação de rua ou de vulnerabilidade, que foram levadas e pagas para participar no 8 de janeiro. A maior parte era de São Paulo, mas muita gente também era de Santa Catarina”, narrou o deputado distrital Fábio Félix (Psol), titular da CPI que participou da reunião com o ministro.
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Hoteis como rota de fuga
A informação repassada por Moraes de que havia fornecimento de dinheiro a uma parcela dos presos coincide com parte dos depoimentos colhidos nos trabalhos da CPI. O colegiado já havia recebido o relato de que muitos dos manifestantes acampados em frente ao quartel-general do Exército estavam, na realidade, hospedados em hotéis, que inclusive serviram de rota de fuga durante os conflitos com a polícia em 12 de dezembro.
O colegiado também já havia apurado que muitos dos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro foram à manifestação preparados para um cenário de violência: os policiais que estavam no local identificaram manifestantes portando estilingues, máscaras de gás, fogos de artifício e bolas de gude, utilizadas para derrubar cavalos ou policiais em corrida.
Fábio Félix conta que o STF já conseguiu localizar os financiadores intermediários por trás dos atos golpistas, e que a atual prioridade dos investigadores é identificar os grandes financiadores, objetivo comum com a CPI. Os dois poderes também buscam identificar como os manifestantes conseguiram chegar até a Esplanada dos Ministérios. “A decisão preliminar do planejamento era de que a esplanada estaria fechada. Essa é uma pergunta que os inquéritos fazem, mas também uma pergunta que a CPI precisa fazer para chegar aos responsáveis, pela omissão, pelos equívocos no planejamento”, afirmou o deputado.
Acampamentos criminosos
Os parlamentares também conversaram com o ministro sobre o acampamento montado pelos manifestantes, desde a data do segundo turno das eleições de 2022, em frente ao quartel-general do Exército, onde exigiam um golpe militar para anular o resultado do pleito. Localizado em um bairro de jurisdição da força terrestre, o acampamento durou até o dia 8, recebendo proteção militar ao longo desse período.
Fábio Félix conta que o entendimento de Alexandre de Moraes é de que a própria manifestação em forma de acampamento em defesa de um golpe de Estado já violava o Código Penal. “Foi importante ele dizer que as manifestações antidemocráticas em frente aos quartéis generais já eram atribuídas e caracterizadas como criminosas. E muitos dos que estavam em frente aos quartéis pedindo um golpe militar estavam sim cometendo um crime”, contou o parlamentar.
Forças Armadas
No dia 8 de janeiro, o até então comandante do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), tenente-coronel Paulo Jorge Fernandes da Hora, foi filmado dentro do Palácio do Planalto tentando impedir os policiais militares que desocupavam o prédio de prender os invasores que depredavam o prédio. Mais tarde, o próprio ex-comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, utilizou sua tropa para impedir a entrada de policiais no Setor Militar Urbano, para onde fugiam os golpistas.
Os indícios de apoio por parte do Exército aos ataques são um dos pontos que a CPI busca investigar. Félix conta que Moraes também pretende aprofundar nessa questão. “O STF também está investigando a omissão ou prevaricação do BGP”, anunciou. O Plenário do Supremo já concluiu que os processos referentes a militares envolvidos no dia serão conduzidos por Moraes, e não pelo Superior Tribunal Militar (STM).