Uma investigação interna da Apex Brasil indica que Ricardo Camarinha, médico do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi funcionário fantasma da agência em Miami. Durante o período, o escritório da Apex nos Estados Unidos era comandado pelo general Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
“O médico não desenvolvia qualquer atividade profissional que mantivesse ligação com o cargo de assessor, e nem frequentava as dependências do escritório. O fato configura uma contratação fraudulenta”, diz a Apex em nota.
Segundo as investigações internas da agência, a contratação de Camarinha foi “imposta à equipe” em abril de 2022. As informações serão enviadas para a Polícia Federal, para o Supremo Tribunal Federal e para o Tribunal de Contas da União, responsável pela fiscalização de órgãos públicos.
O Congresso em Foco tentou contato com a defesa de Lourena Cid e com o médico Ricardo Camarinha. Até a publicação desta reportagem, não houve respostas. O espaço segue aberto.
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Durante a gestão de Lourena Cid, houve outras irregularidades na Apex de Miami, segundo a Comissão Extraordinária que investigou o caso. De acordo com a Apex, o general, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, utilizou a agência do Estado brasileiro para negociar a venda de joias desviadas da Presidência da República, no esquema investigado pela PF e que pode envolver o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lourena Cid é acusado de ter usado o celular funcional da Apex e as dependências da agência para “compartilhar fotos das joias e objetos de arte do acervo atribuído ao ex-presidente”. Além disso, o general teria resistido em devolver o celular da agência utilizado no caso depois de ser demitido. A agência indica ainda que Lourena Cid nunca devolveu o passaporte oficial com visto de trabalho da Apex.
PublicidadeAntes de ser demitido, o general recebeu em seu gabinete na Apex em Miami o corretor que transportou as joias da Presidência. O encontro com Cristiano Piquet, da Piquet Realty, teria ocorrido em 1º de agosto de 2022. “Piquet confessou à Polícia Federal que, em janeiro de 2023, transportou uma mala de joias do ex-presidente Jair Bolsonaro de Orlando para Miami, a fim de entregá-la ao general Cid”.
Além disso, Lourena Cid obteve para o escritório de Miami a a condição diplomática de “anexo consular”, algo que nunca feito para nenhuma outro escritório da Apex no exterior. “Ela dá aos dirigentes do escritório benefícios e imunidades concedidas a diplomatas, como por exemplo maiores facilidades para obtenção de vistos”, diz a agência. O status deve ser revogado.
A Apex deve ainda tomar providências administrativas. “Em nome do zelo pela boa governança e do respeito à institucionalidade, a Diretoria da ApexBrasil prossegue na apuração e no exame de desdobramentos, desvios e eventuais irregularidades relacionados ao escritório de Miami”.
Outro lado
A assessoria de Ricardo Caminha enviou uma nota de resposta ao Congresso em Foco. Leia na íntegra:
“O médico Ricardo Camarinha repudia com veemência a informação atribuída à Apex de que seria funcionário fantasma da agência nos Estados Unidos e que o respectivo contrato de trabalho seria fraudulento. Ricardo Camarinha foi contratado pelo Presidente da Apex no Brasil, em abril de 2022, em observância às normas legais e regulamentares, para dar assessoramento técnico na área médica a empresas brasileiras que prospectavam oportunidade de negócios nos Estados Unidos.
O serviço foi prestado dentro das orientações recebidas da Apex, com trabalho presencial e remoto e em diversos eventos públicos, nas mais variadas cidades norte-americanas, com profissionalismo e rigor na conduta ética. A missão recebida e cumprida tinha o condão, ainda, de estabelecer ligações envolvendo novas tecnologias na área de saúde do Brasil e Estados Unidos, pois havia grandes preocupações com políticas públicas nessa área diante do quadro constatado na pandemia.
Em janeiro de 2023, já no atual governo, o contrato de trabalho foi encerrado pela Apex sem qualquer questionamento sobre sua atuação profissional junto àquela agência nos Estados Unidos. A divulgação de matérias inverídicas trouxe repercussão negativa em sua vida
pessoal e atuação profissional, em detrimento de décadas de serviços realizados em prol da medicina, em que se pautou por conduta ilibada e comportamento idôneo. Por fim, estão sendo estudadas as medidas cabíveis contra os responsáveis pela produção e/ou divulgação de informações que macularam sua honra e dignidade”.