A crise no Pros toma rumos de guerrilha interna com cenas como invasão à sede nacional em Brasília com homens armados e até um suposto contra-ataque para a retomada do imóvel devido a recente pouso de helicóptero no local. Mas é a troca de denúncias que mais desgasta os dirigentes do Pros. Seus personagens parecem ter saído de um faroeste macarrônico. O caso foi parar na Polícia Civil do DF e na Justiça.
O presidente e fundador do partido, Eurípedes Gomes de Macedo Júnior, foi alvo de uma manobra para tentar afastá-lo do cargo por um grupo de dissidentes, chamados por ele de “golpistas”. O grupo ocupou, no último dia 11, a sede do Pros, na capital federal, uma casa no Lago Sul. Cerca de 50 seguranças armados são mantidos dentro e fora do imóvel. A disputa envolve o controle de recursos dos fundos partidário e eleitoral, que, somados, devem chegar este ano a R$ 80 milhões.
Filiação suspensa
Os “rebeldes” realizaram, de surpresa, uma reunião na sede do partido para que a direção nacional fosse destituída e assim tentar dar legalidade ao ato. Mas Eurípedes Júnior permanece como presidente do Pros perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) . É o que consta na página oficial.
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Para remover Eurípedes do cargo, o grupo rebelde alegou que o então dirigente cometeu “diversas infrações disciplinares, especialmente por desviar recursos partidários e negociar a legenda em evidente prejuízo do partido e para auferir vantagens financeiras e pessoais”.
Eurípedes tenta a reintegração de posse da sede do partido e a anulação do que chama de golpe. Na semana passada, um helicóptero pousou próximo ao imóvel. O episódio foi considerado uma tentativa de intimidação pelos autodeclarados novos dirigentes. A assessoria de Eurípedes afirma que o helicóptero não tem relação alguma com o partido ou com ele e que o pouso foi feito por motivos técnicos conforme o próprio piloto da aeronave informou posteriormente. Então, o grupo rebelde que se apropriou da sede teria distorcido a informação.
PublicidadeA guerra interna no Prós está sendo travada pelas redes sociais oficiais do partido, pois o grupo rebelde se apoderou do Facebook, Instagram e Twitter e emite informações de que Eurípedes foi destituído. Mas o site oficial do partido permanece sob o controle do fundador da legenda.
Boa Morte
Um dos dissidentes que lideram a intervenção é o ex-secretário nacional de Multiculturalismo e Igualdade racial do Pros, Edmilson Boa Morte, que também acumula processos na Justiça. Atualmente, segundo informações do site Escavador, que compila dados de ações judiciais, Boa Morte é alvo de 11 processos.
Candidato derrotado a deputado distrital em 2014, ele já foi condenado por prática de assédio moral no Metrô de Brasília, em 2004. Em outro caso, Boa Morte é instado a corrigir prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral.
Policiais
O outro líder na ação é um perito papiloscopista da Polícia Civil do DF que está de licença médica, segundo a ala adversária, para tratamento psiquiátrico. Marcus Vinícius Chaves de Holanda era secretário nacional de Comunicação do partido. O grupo dissidente, segundo fonte ouvida pela coluna, tem ainda o apoio “operacional” de um dono de empresa de segurança privada, o também policial civil Carlos Rodrigues Tabanez. Ele foi candidato a deputado distrital com o lema “Cana Neles”.
O diretório nacional do Pros que foi destituído ingressou com uma representação na Polícia Civil do DF pedindo que seja instaurado um processo administrativo disciplinar (PAD) contra Marcus Vinícius.
O Pros questiona o fato de Marcus Vinicius se autoproclamar presidente enquanto está licenciado por motivo de saúde do serviço público. A assessoria de Eurípedes não explica, porém, como ele estava antes apto a cuidar da Comunicação nacional do Pros, na gestão do próprio presidente deposto.
O Congresso em Foco não conseguiu localizar Marcus Vinícius, Boa Morte e Tabanez. A reportagem será atualizada assim que houver contato de algum deles.
Denúncias
A sigla se mostra submersa em contradições, denúncias entre seus membros e atua de forma esquizofrênica com dois grupos ao mesmo tempo na direção partidária.
“Os pseudoautoproclamados dirigentes do Pros Nacional, Marcus Holanda e Edmilson Boa Morte, não apresentaram até hoje a documentação solicitada pela Justiça. Eles estão se escondendo da citação”, aponta a assessoria da direção destituída.
Ainda no cargo, Eurípedes foi acusado, em 2017, de utilizar o dinheiro público para a compra de um helicóptero, mansões, um avião bimotor e de contratar funcionários terceirizados por meio de empresas de parentes. Ao menos quatro denúncias contra Eurípedes foram apresentadas pelo Ministério Público Federal. Em 2018, ele foi alvo da Operação Partialis, da Polícia Federal, que investigava esquema desvio de mais de R$ 2 milhões de verbas federais destinadas à aquisição de gases medicinais no Pará e em Brasília. Ele escapou da prisão após se apresentar às autoridades na véspera da eleição. A legislação veda prisões dessa natureza nesse período.
A bancada do Pros no Congresso Nacional soma dez deputados federais e três senadores. Em nota, eles declaram apoio a Eurípedes Júnior. O documento foi assinado pelos líderes das bancadas das duas Casas, senador Telmário Mota (RR) e Toninho Wandscheer (PR).
“Os senadores, bem como os deputados federais do Pros, reconhecem a plena vigência de mandato da atual Executiva Nacional, presidida por Eurípedes Gomes de Macedo Júnior, e repudiam a nota que foi indevidamente veiculada por pessoa não autorizada no site do partido mencionando nova composição”, destacaram os parlamentares. O senador Fernando Collor (AL) também se manifestou em apoio a Eurípedes Júnior nas redes sociais.