O deputado distrital Leandro Grass (PV), ex-candidato ao governo do Distrito Federal, encaminhou um ofício à Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitando que seja feita uma investigação sobre a fala de Jair Bolsonaro ao podcast Paparazzo Rubro-Negro, no último sábado (15), onde ele afirma ter “pintado um clima” entre ele e um grupo de adolescentes venezuelanas de 13 e 14 anos enquanto andava de moto na cidade de São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal.
Veja o vídeo com a fala de Bolsonaro:
“Prevaricou”
Na avaliação de Grass, todas as possíveis justificativas do presidente para sua fala levam a indicar um ilícito. “Ele disse que ‘pintou um clima’ com as meninas, e afirmou categoricamente que elas estavam ali para ‘ganhar a vida’. Se o interesse dele foi apenas de averiguar uma situação de abuso sexual, prostituição infantil ou algo do tipo, a postura dele, como de qualquer agente público, teria que ser a de ativar qualquer um dos órgãos de proteção aos direitos da criança e do adolescente. Se ele viu essa situação e não o fez, então ele prevaricou”, apontou em entrevista ao Congresso em Foco.
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Outro cenário seria o de Bolsonaro ter feito uma avaliação errada do que viu: o que também acabaria incorrendo em ilícito pelo julgamento seguinte. “Dada a justificativa de que ele teria ido lá, e não ter sido o que ele falou; então se mesmo tendo visto que a realidade do lugar não era de prostituição, por que foi que ele confirmou no podcast que as meninas estariam lá para isso? Nesse caso, a fala já caracteriza xenofobia, e denunciação caluniosa contra as pessoas que moram naquele abrigo”, declarou.
O segundo caso já inclusive começou a tomar forma. Em uma entrevista ao portal UOL, uma das moradoras do abrigo visitado por Bolsonaro negou a existência de qualquer atividade ligada a prostituição no local. O presidente afirmou que as venezuelanas estariam juntas se arrumando para “ganhar a vida”, quando na realidade estava sendo realizado um curso de estética. No momento da visita, a instrutora, uma brasileira, estava implementando a etapa prática do curso.
Leandro Grass explica que iniciativas como essa são comuns em São Sebastião. “Ali é uma região onde existem alguns espaços para acolher essas pessoas que vieram para o Brasil e estão em busca de novas oportunidades e de sobrevivência”, relatou.
Ações além da PGR
Ao longo de seu mandato, Jair Bolsonaro colecionou denúncias enviadas à PGR. Estas, porém, constantemente terminam arquivadas por determinação de seu procurador-geral, Augusto Aras. Leandro Grass conta que já se prepara para enfrentar essa possibilidade. “Vamos tomar outras providências a partir de segunda-feira (17). A gente também vai fazer questionamento ao Conselho Tutelar para que possa também tomar providências, bem como questionar a Secretaria de Justiça do Distrito Federal, já que é um caso dentro do nosso território”.
Além dos planos de segunda-feira, o deputado ainda planeja trabalhar em outros caminhos para dar início às investigações, não ficando descartada a possibilidade de envio de notícia-crime diretamente ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Nada impede novas providências. A gente oficiou à PGR porque é o caminho mais convencional nesse primeiro momento, mas ainda é possível fazer novos questionamentos e acionar outros órgãos”, anunciou.
Além de Leandro Grass, quem também anunciou que planeja encaminhar uma notícia-crime ao STF foi a bancada do Psol na Câmara dos Deputados. Em nota, a líder do partido na Casa, Sâmia Bomfim (SP), chama atenção para a intenção manifestada pelo presidente. “Bolsonaro passa acintosamente todos os limites morais ao afirmar que ‘pintou clima’ entre ele e pré-adolescentes de 14 anos, e mostrar que, mesmo numa situação em que ele, em tese, vislumbrou exploração sexual infantil, sua atitude foi a de interesse e não de proteção daquelas meninas”.
Confira a seguir o ofício enviado por Leandro Grass à PGR:
Nova fala polêmica
A divulgação da fala em que Bolsonaro fala que “pintou um clima” quando viu as meninas venezuelanas fez com que o presidente fizesse uma live já de madrugada para tentar se explicar. Na live, ele afirma que o PT teria “passado de todos os limites” tirando o que ele dissera de contexto. A verdade, porém, é que, de fato, o presidente usou a expressão na entrevista. E, ainda que tivesse tido outra intenção, é também fato que ele fez uma acusação de prostituição no local, que, de acordo com a moradora, não procede. E, ainda que procedesse, ele não tomou qualquer providência à época para denunciar o que afirma que vira.
Depois da repercussão do vídeo do podcast, outro vídeo com suposta insinuação pedófila de Bolsonaro começou a circular na manhã deste domingo. No vídeo, de uma live do presidente, ele faz uma brincadeira com uma menina que conversa com ele. A menina afirma que “começou cedo”, referindo-se ao trabalho que faz como entrevistadora em um programa nas redes sociais. Bolsonaro ri, dando outra conotação à frase.
Veja o vídeo: