A posse de Wellington Dias revelou por que o PT brigou tanto para ter a pasta e não entregar o Ministério do Desenvolvimento Social para Simone Tebet, a nova ministra do Planejamento. Na tarde da segunda-feira (2), o auditório do bloco B da Esplanada dos Ministérios, onde funcionará o novo ministério, ficou completamente lotado. Outro auditório com um telão teve que ser providenciado para abrigar mais convidados. Ficou lotado também. Outros ministros importantes do novo governo, como Camilo Santana, da Educação; Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, e Nísia Trindade, da Saúde, estavam presentes. Diversos governadores, até mesmo o oposicionista Ibaneis Rocha, do Distrito Federal, que tem suas raízes familiares no Piauí de Wellington Dias. E a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, devidamente marcando o território.
Logo no começo do seu discurso, Wellington deu a senha: “Tenho consciência de que o ministério que assumo será o coração do novo governo”. Eis porque o PT entendia que não podia abrir do Desenvolvimento Social. No entendimento do partido, seria abrir do seu principal órgão vital. Por mais que Simone Tebet seja parceira, ela tem um outro projeto político. Certamente vislumbra ser candidata à Presidência em 2026 ao final do mandato de Lula. E ela não é do PT.
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Na véspera, o discurso de posse de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente já dava a senha de que a promoção da igualdade social é de fato a bandeira que ele quer imprimir agora. Talvez mais marcadamente do que já procurava ser a bandeira dos demais governos da era petista. Em 19 momentos diferentes do seu discurso, Lula pontuou a enorme desigualdade social brasileira e o trágico retorno da fome ao cenário do país.
Há diversos sinais de que talvez agora o tema da igualdade social se apresente de uma forma ainda mais forte do que nos dois governos anteriores de Lula. Em 2002, já no seu primeiro discurso após vencer as eleições, Lula dizia que seu compromisso seria fazer com que todo brasileiro fizesse três refeições ao dia. Mas o contorno de como isso se daria não surgiu imediatamente. O governo tentou primeiro o programa Fome Zero, mas a ideia precisou ser reformulada. A montagem do que se tornou o Bolsa Família, a partir do cadastro único e da reunião de todos os programas sociais, só se deu depois.
E há aí um outro ponto que hoje gera as reações do mercado financeiro – na segunda-feira, a Bolsa caiu e o dólar subiu. Em 2002, Lula temperou a preocupação social com a Carta ao Povo Brasileiro e com o comando moderado de Antônio Palocci no Ministério da Fazenda. O sujeito que hoje caiu em desgraça junto aos petistas era amado pelos banqueiros – com razão, porque nunca lucraram tanto.
Desde a formulação da PEC da Transição, o mercado tem dado sinais de que se preocupa com o tamanho da atual preocupação social de Lula. Agora, ela vai se dar de forma a mesmo comprometer a responsabilidade fiscal? Ainda que Lula responda o tempo todo que nunca governou de forma irresponsável, o que, de certa forma, revela certa injustiça de fato do mercado.
Mas a dúvida se dá pelo fato de Haddad não ter um perfil claro quanto à sua formulação econômica. O que pensa e de que jeito irá fazer. Ainda que seja mais moderada, no Planejamento foi colocada outra política, Simone Tebet, e não um economista técnico como o mercado também esperava.
Lula, porém, tem hoje a dimensão do estrago que foi provocado pelos quatro anos de Jair Bolsonaro. Destruir é sempre mais fácil e mais rápido que reconstruir. É por isso que Lula tem pressa. É por isso que bate forte e rápido o coração de seu governo, no Ministério do Desenvolvimento Social. Mas é preciso também certos momentos de descanso e de respirar fundo. O coração até pode precisar bater forte. Ele só não pode infartar.