Antes de mais nada, um pedido de desculpas aos que perdem seu tempo lendo o que escrevo. Numa das últimas colunas, afirmei que Bolsonaro não era perigoso pelo que ele e sua equipe poderiam causar de danoso à economia, porque é impossível superar Dilma o estrago que ela e sua turma fizeram. E afirmei que o maior risco são os possíveis danos ao meio ambiente, como o aumento do desmatamento e à pauta de costumes, como eventuais retrocessos no combate ao racismo e à homofobia.
Pois venho me penitenciar. E dizer que, depois da publicação do tuíte pornográfico, o maior problema do atual governo é a burrice. Burrice crônica. Burrice inata. Burrice repetida. Burrice irresponsável. Burrice irreversível. Burrice intransponível e incontornável. Burrice que nunca conseguirá ser superada nem com o maior esforço das mais altas inteligências atuando em uníssono.
Burrice…triunfante! Burrice com faixa, cetro e coroa. Burrice pre-si-den-cial!
Burrice não é atenuante. Burrice é burrice
Pois se Bolsonaro não postou aquele vídeo por burrice, não me ocorre qualquer outra explicação, por mais simples ou complexa que possa existir. Deputado há quase três décadas, o capitão sabe que difundir pornografia é crime e ponto final. Um crime nojento, abjeto. E ele postou. Para amenizar-lhe a pena, um advogado desses de porta de cadeia o aconselhará a dizer que postou por… burrice. Ainda assim continuará a ser criminoso por divulgar conteúdo pornográfico. “Ah, mas foi por uma boa intenção: mostrar ao mundo o que de mais torpe se pratica no carnaval”. Ainda assim Bolsonaro continua a ser o que é: um criminoso comum. O simples fato de ser presidente da república não é atenuante, neste caso: é agravante. É um criminoso, sim. E como tal merece punição exemplar.
Leia também
Compadres e comadres: Bolsonaro não apenas distribuiu um vídeo pornográfico e tamos conversados. Ele distribuiu por uma rede social na qual conta com quase 4 milhões de seguidores uma nojura assistida por dezenas, centenas, milhares, talvez milhões de crianças espalhadas pelo país. Pelo mundo! Pais, mães, avôs, avós, tios, tias, padrinhos e madrinhas estão, neste momento, pelo Brasil afora – pelo mundo afora – se espremendo para distrair as crianças do conteúdo pornográfico ao qual tiveram acesso. “Mas foi o presidente que postou, papai!” E o pai revirando até o último neurônio para explicar por que o presidente da república não se deu ao respeito e se utilizou de uma rede social de largo espectro para distribuir imagens sórdidas e repulsivas até para adultos calejados e que se dizem liberais como eu, ele e, espero, o leitor que me acompanha.
PublicidadeSó tem um jeito: focinheira e luvas de boxe
Será que ninguém avisou a ele que no twitter ele tem seguidores que são… crianças? Será que não tem uma assessoria capaz de avisá-lo de que a faixa presidencial o torna um garoto-propaganda do Brasil? Será que alguém já o avisou que a imagem do país que ele diz presidir foi atacada e denegrida em escala planetária? Será que ali no Palácio da Alvorada não tem ninguém, nem mesmo um copeiro, uma zeladora, um office-boy capaz de sumir com o celular desse sujeito, para que ele pare de usá-lo de forma tão deplorável e criminosa?
O país está em transe. A neta de quatro anos de meu amigo Fábio Panunzzio, apresentador da Band, está na cola do avô, querendo dele uma explicação para o fato de o próprio presidente da república ter roubado tão cedo a sua inocência. Desculpa, Fabinho. Nessa não tenho como te ajudar.
Já se mobilizam parlamentares propondo impeachment para o criminoso. Condenações ao crime e críticas duras ao autor do crime correm o mundo em velocidade cibernética. Um amigo sugeriu que eles usassem focinheiras para não falar besteiras. E luvas de boxe para não teclarem imbecilidades.
Ah, desculpa, foi mal aí, tá oquêi?
Provavelmente, quando este artigo tiver sido publicado, algum Mourão ou mesmo um Onyx desses já terá aparecido pra dizer que “foi mal, desculpa aí”, que “a intenção não era essa, relevem”, que “tudo não passou de um lamentável equívoco, essas coisas acontecem”, ou que “ele agiu na emoção, só queria denunciar o que acontece no Carnaval, mas foi com a melhor das intenções”.
Sejam quais forem as explicações, a postura de Bolsonaro, Presidente da República Federativa do Brasil foi, apenas, criminosa, e assim deve ser tratada. Se um liquidificador pode ser pior do que uma arma, na opinião desse governo que abriu a corrida armamentista, deixar nas mãos de um irresponsável uma arma perigosa como um aparelho celular é como entregar um AR-15 a um menino de cinco anos.
É penta! É tetra! É por-no-grá-fi-co!
Minha última coluna terminava dizendo: “que PAÍS é esse nós já sabemos. Falta descobrir que GOVERNO é esse. Pois agora surge outra: que PRESIDENTE é esse?
Sim, era possível esperar tudo e mais alguma coisa desse sujeito. Mas nessa ele se superou e conseguiu mais um título para o Brasil. Agora somos o primeiro país do mundo a ter um presidente que propaga pornografia num site oficial. Ufanemo-nos, então. E a plenos pulmões, gritemos:
– Urrú! É penta! É tetra! É o mundo mais uma vez se curvando aos nossos pés! É simplesmente POR-NO-GRÁ-FI-CO! Brasiiiiiil!
>> Planalto defende divulgação de vídeo obsceno por Bolsonaro e nega crítica dele ao Carnaval