O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), anunciou que a Casa deverá abrir um procedimento investigativo para analisar se o assessor especial para assuntos internacionais do presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins, efetivamente fez um gesto ofensivo, durante a sessão desta quarta-feira (24).
O assessor de Bolsonaro acompanhava o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante a sessão onde os parlamentares imploraram para que o chanceler se demitisse. Em um dado momento, captado pela TV Senado, Martins faz um símbolo de “OK” com os dedos da mão direita, enquanto a esquerda ajeitava os botões de seu paletó.
O gesto tem múltiplos significados, alguns de conotação obscena. Mais recentemente, movimentos racistas de supremacistas brancos passaram a se valer do símbolo para a expressão “white power”.
Veja o vídeo:
A imagem de Filipe Martins é frequentemente associada a movimentos de supremacistas brancos, e mesmo seu perfil no Twitter é carregado de referências compartilhadas por estes grupos extremistas. Um militante de extrema-direita, que matou 51 pessoas em duas mesquitas na Nova Zelândia em 2019, se valeu da mesma frase que adorna o perfil do assessor na rede social.
PublicidadeA repercussão imediata nas redes sociais alarmou a Casa. Primeiro a se manifestar sobre o ato, o líder da minoria, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) chegou a pedir que a Polícia Legislativa retirasse o assessor e o autuasse.
“Isso é inaceitável, é inaceitável!”, exasperou-se o senador. “Basta o desrespeito que este Governo está tendo com mais de 300 mil mortos, a essa altura. Basta isso! Não aceitamos que um capacho do Senhor Presidente da República venha aqui, ao Senado, durante a fala do Presidente do Senado, nos desrespeitar.”
Apesar disso, Filipe continuou na sessão, acompanhando os questionamentos ao chanceler. Mais parlamentares comentaram a situação: “Não sei nem que gesto importa tanto, se é um neofascista, se é uma ofensa depreciativa, o fato é que aqui não é local, nem momento para fazer gracinha, pagar aposta para ninguém. Não sei o que é isso aí, mas vai ser investigado. Certamente, o presidente não vai deixar isso aí acontecer dessa forma”, disse Jean Paul Prates (PT-RN).
“Isso é um circo de horror. Realmente, nunca vi, ao longo de tantos mandatos, uma situação como essa”, disse a senadora Rose de Freitas (MDB-ES). Assim como Randolphe, a parlamentar acreditou, em um primeiro momento, que o gesto tinha conotação obscena, e não seria portanto uma mensagem cifrada à base bolsonarista assistindo à sessão.
No final da sessão Pacheco se manifestou. “A presidência não fará prejulgamentos nem estabelecerá qualquer tipo de preconceito em relação ao fato e determina à Secretaria-Geral da Mesa que cuide de colher as informações necessárias – inclusive as imagens da sessão – e as encaminhe à Polícia Legislativa do Senado Federal para instauração de procedimento próprio”, disse. O parlamentar mineiro disse também que o assessor terá de ser ouvido e poderá apresentar sua defesa ao caso.
Após a sessão, Filipe Martins partiu ao ataque. O seu incomum gesto de abotoar o paletó não poderia representar uma saudação supremacista branca, em sua visão. O assessor bolsonarista prometeu processar quem assim o acusou.
Durante toda a noite, o termo “Supremacista” era um dos mais comentados do Twitter. Apesar de declarar que o fato e “ser judeu” o impediria de fazer um ato associado a neonazistas, o Museu do Holocausto de Curitiba se manifestou de maneira diferente.
É estarrecedor que não haja uma semana que o Museu do Holocausto de Curitiba não tenha que denunciar, reprovar ou repudiar um discurso antissemita, um símbolo nazista ou ato supremacista. No Brasil, em pleno 2021. São atos que ultrapassam qualquer limite de liberdade de expressão
— Museu do Holocausto (@MuseuHolocausto) March 25, 2021
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