A operação da Polícia Federal realizada nessa quarta-feira (27) que apura um esquema de notícias falsas e ataques a ministros do STF, teve como alvo, além de blogueiros e deputados, os empresários Edgard Corona, Luciano Hang e Otavio Fakhoury, o humorista Reynaldo Bianchi e o militar reformado Winston Rodrigues Lima.
Segundo despacho do ministro do STF, Alexandre de Moraes, há indícios de que eles participaram do financiamento de uma rede de desinformação criada para apoiar o presidente Jair Bolsonaro, atacar adversários políticos e instituições, como o Congresso e o próprio Supremo.
As tratativas, diz o documento, sugerem que eles agem por meio de grupos fechados de WhatsApp estruturando o processo de criação e disseminação de notícias fraudulentas, corroborando com os depoimentos feitos à CPI mista das Fake News pelos deputados Alexandre Frota (PSDB-SP) e Joice Hasselmann (PSC-SP) sobre a existência do chamado Gabinete do Ódio.
Além de ordenar buscas e apreensões nos endereços dos cinco suspeitos de financiar o esquema, Moraes determinou o bloqueio de suas contas nas redes sociais e a quebra do sigilo fiscal e bancário deles no período entre julho de 2018, início da campanha eleitoral, e abril de 2020. O ministro ainda fixou o prazo máximo de dez dias para que eles prestem depoimento à Polícia Federal.
O bloqueio de suas contas nas redes sociais é necessário, segundo Moraes, “para a interrupção dos discursos com conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”.
Saiba mais sobre cada um desses cinco investigados:
Luciano Hang
Ainda na campanha o empresário foi proibido pela Justiça trabalhista de adotar condutas que pudessem induzir seus 15 mil funcionários a votarem em Bolsonaro. Hang havia dito que contava com o voto de seus 15 mil empregados no candidato do PSL para não ter de “fechar as portas” e demiti-los. No início da pandemia, a empresa foi uma das primeiras a utilizar a Medida Provisória (MP) 936/2020 que permite a suspensão do contrato de trabalho por até 60 dias, atingindo 11 mil funcionários.
Na semana passada, a ex-presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Kátia Bogea atribuiu sua demissão ao fato de ter contrariado interesse empresarial de Hang. A dificuldade do empresário com o instituto foi criticada por Bolsonaro na reunião ministerial de 22 de abril. “O Iphan para qualquer obra do Brasil, como para a do Luciano Hang. Enquanto tá lá um cocô petrificado de índio, para a obra, pô!”, disse Bolsonaro na reunião.
Hang é um dos líderes do Instituto Brasil 200, que reúne cerca de 300 empresários apoiadores de Bolsonaro.
O que ele disse sobre a ação da PF:
“Jamais patrocinei fake news. O que é? Fazer algo certo e transformar em errada. Queremos falar a verdade. Às vezes, tem um fato e várias versões. Eu sempre coloco a minha versão. Sempre produzimos conteúdo nas nossas redes sociais para os nossos fãs em todo o Brasil”, afirmou.
Edgard Corona
No início de maio, Bolsonaro publicou decreto para ampliar os serviços considerados essenciais durante a pandemia, incluindo salões de beleza, barbearias e academias de ginástica.
O que disse ele disse sobre a ação do STF:
“Edgard Corona está à disposição da Justiça para os devidos esclarecimentos em investigação do STF”, informa nota divulgada por sua assessoria.
Otavio Oscar Fakhoury
Em 2018, Fakhouri doou R$ 102,5 mil a candidatos, como mostram registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre os beneficiários, dois deputados alvos do inquérito das fake news: Bia Kicis (PSL-DF), que recebeu R$ 51,7 mil, e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), para o qual doou R$ 38 mil.
Fakhouri foi tesoureiro-geral do diretório estadual do PSL, na gestão de Eduardo Bolsonaro. Nota publicada pela coluna BR Político, do Estadão, mostra mensagem atribuída a ele no grupo de Whatsapp Mkt Bolsonaro em que ele diz que financiaria os atos do dia 15 de março contra o Congresso e o Supremo.
O que ele disse sobre a ação da PF:
O empresário não se manifestou publicamente sobre o assunto. Retuitou mensagens de Jair e Carlos Bolsonaro em defesa dos investigados no inquérito do STF. Bolsonaro os chama de “cidadãos de bem”. O Crítica Nacional também divulgou conteúdo com críticas à decisão do Supremo.
Reynaldo Bianchi Junior, o Rey Bianchi
Humorista conhecido por fazer paródias musicais, apresenta-se no Twitter como “desinfluenciador analógico”, palestrante, músico e místico. Seus posts são marcados pela defesa do presidente e por críticas a adversários políticos de Bolsonaro.Ele gravou a ação da Polícia Federal em seu apartamento, na qual mostrou o choro de sua esposa diante da presença dos agentes e protestou contra Alexandre de Moraes e o presidente do Supremo, Dias Toffoli.
Bianchi tem em seu perfil vídeos com depoimentos de personalidades com elogios ao seu trabalho artístico. Entre eles, Chico Anísio, Marcelo Adnet, Danilo Gentili e Zico.
O que ele disse sobre a ação do STF:
“Alexandre de Moraes, veja só. Se for pegar a folha corrida de ministro do STF, como disse o Silas Malafaia, vão ver quem foi advogado de quem. Toffoli foi advogado de quem… que eles fizeram…”, afirmou. “Não fui advogado do PCC”, acrescentou, referindo-se a Moraes. Bianchi também ironizou ter sido no inquérito como financiador do esquema de fake news. “Eu financiador? Huahuahuahua tô pedindo dinheiro nas redes sociais, agora então, operado, sonda urinária, sem show nem palestra, ahhh depositem algum dinheiro na minha conta!”
Winston Lima
Militar reformado da Marinha, é responsável por atos bolsonaristas e pelo canal do Youtube Café com Pimenta, pelo qual transmite ao vivo os encontros do presidente Jair Bolsonaro com apoiadores e a imprensa no Palácio da Alvorada.De acordo com documentos do governo do Distrito Federal obtidos pelo portal UOL, Winston foi um dos organizadores do ato de apoio a Bolsonaro no último dia 3. Os manifestantes defenderam o presidente, que esteve na manifestação, e o fechamento do Congresso e do Supremo. Winston já hostilizou jornalistas que faziam a cobertura do presidente. Nas redes sociais, faz e reproduz ataques a adversários de Bolsonaro.
O que ele disse sobre a ação do STF:
“Estão querendo investigar se financio as manifestações da direita conservadora, quebraram meu sigilo bancário e fiscal, mas mal consigo pagar minhas contas no fim do mês. Quando olharem meu saldo e minhas movimentações bancárias vão querer fazer um depósito rsrsrs”, publicou no Twitter.
> Ex-aliados de Bolsonaro detalham modus operandi do “gabinete do ódio”