Zenaide Maia *
O escritor João Guimarães Rosa, antes de publicar seus livros, atuou como médico em Itaguara, que era então um pequeno lugarejo mineiro onde nem energia elétrica havia. O jovem recém-formado tinha condições de clinicar na capital, Belo Horizonte, de montar uma clínica por lá, mas preferiu começar a vida profissional onde viu que poderia ajudar e aprender mais. Ele defendia uma visão humanista da Medicina. E isso fez toda a diferença! Fez uma opção pelos mais vulneráveis!
Guimarães Rosa atendia gente simples, era responsável pelo que, hoje, nós chamamos de “atenção primária”. Como médico da comunidade, ia ao encontro de seus pacientes montado a cavalo, levando consigo, provavelmente, muito pouco: estetoscópio, termômetro, alguns outros instrumentos simples, mas úteis para o diagnóstico.
Eu trago esse relato porque ele ilustra muito da disposição que movimenta o programa Mais Médicos, do governo federal, desde a sua primeira versão e que, tenho certeza, continuará garantindo o seu sucesso nesta nova etapa: a disposição de ir para onde as necessidades e os aprendizados são maiores!
Esta decisão não é fácil, mas é, de fato, recompensadora: até hoje, a cidade de Itaguara não esquece Guimarães Rosa. E muito do que lemos na obra do escritor nos dá a certeza de que, também, Guimarães Rosa nunca esqueceu Itaguara, sua gente, suas histórias. É um processo em que o benefício é mútuo!
Sou médica, infectologista, formada em universidade pública, sempre atendi na rede pública e também atuei como secretária de saúde em São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana de Natal, no Rio Grande do Norte. Sei bem – porque vivi – que um atendimento médico humanizado faz toda a diferença em uma comunidade. Que uma atenção primária robusta evita o agravamento de doenças, reduz internações, diminui a mortalidade infantil e, sobretudo, também é uma forma de o Estado dizer que enxerga, respeita e reconhece a cidadania que é todos e de cada um, independentemente do local de moradia!
Porque Saúde é direito! Porque médico não deve ser luxo para poucos. Médico é para todos – – é isso o que queremos e hoje, na sanção do Novo Mais Médicos pelo presidente Lula, temos a certeza de que estamos no caminho certo!
E, neste ponto, eu não poderia deixar de fazer o elogio necessário ao nosso Sistema Único de Saúde. O SUS é um tesouro que deve ser defendido como tal! A atenção primária, as equipes de saúde na família, os médicos na comunidade: temos estruturas preciosas que precisam e merecem ser reforçadas com pessoas comprometidas com a Medicina que coloca o ser humano no centro e em primeiro lugar!
Por acreditar tanto nesse tipo de prática médica que eu fiquei feliz e honrada de ter sido a relatora da Medida Provisória 1.165/2023, que veio instituir a Estratégia Nacional de Formação de Especialistas para a Saúde no Programa Mais Médicos. Tive a plena consciência da responsabilidade que estava em minhas mãos e busquei promover debates amplos e plurais na Comissão Mista, presidida pelo deputado Dorinaldo Malafaia e que teve o deputado Jorge Solla como relator-revisor. Agradeço a todos os parlamentares, aos ministros de Estado e à, sociedade civil organizada que atuaram pelo aperfeiçoamento e aprovação do Novo Mais Médicos no Congresso.
Em nosso relatório, identificamos a carência de médicos em lugares que tinham sido 100% atendidos na versão antiga do programa e que, agora, se viam novamente sem atendimento médico. Vimos a necessidade de deixar clara a prioridade que deveria ser dada aos distritos indígenas, aos territórios quilombolas e às comunidades tradicionais, dentre as áreas de vulnerabilidade.
Procuramos valorizar a formação, as avaliações periódicas dos participantes e destacamos o quanto é importante o acompanhamento que é feito pelos preceptores – professores essenciais em todo o processo formativo do Mais Médicos, que volta remodelado e com novos atrativos para a fixação de profissionais nos lugares que mais precisam.
Uma vitória deste tamanho para o Brasil não é fruto do trabalho de uma relatora, mas de todo um conjunto de pessoas competentes, comprometidas e interessadas em construir, coletivamente, uma política de saúde pública excelente – modelo para o mundo! O presidente Lula enviou a proposta de recriação do Programa Mais Médicos para o Congresso no início do ano, formando um corpo ministerial comprometido com a melhoria da vida do povo e disposta a esse trabalho em conjunto com o Legislativo.
Ao sancionar esta lei tão essencial para a Saúde, o presidente da República prova que não é preciso ser médico, doutor ou coisa parecida para ser uma grande liderança – para isso, o que importa é colocar o ser humano em primeiro lugar, sempre! Trabalhar para quem mais precisa. Fazer a opção pelos mais vulneráveis, e isso estamos fazendo, com muita força e muito orgulho.
* Senadora da República, médica e relatora no Senado do novo Mais Médicos
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