O novo ministro da Agricultura, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), mandou um recado aos financiadores e participantes dos atos golpistas ao ser questionado sobre o envolvimento de produtores rurais com as manifestações por intervenção militar. Fávaro considera legítima a posição de setores do agro que fizeram campanha pela reeleição de Jair Bolsonaro, mas diz que não há como compactuar com aqueles que não aceitam o resultado das urnas e agem contra os princípios democráticos.
“É inadmissível. Crimes contra a democracia, crime de terrorismo, isso não será tolerado. Quem quer que esteja fazendo isso, preocupe-se, porque vai ter problema”, disse Fávaro ao Congresso em Foco, logo após ser anunciado como novo titular da pasta pelo presidente eleito Lula nessa quinta-feira (30).
O futuro ministro é senador por Mato Grosso, estado de onde saíram os maiores financiadores da campanha à reeleição de Jair Bolsonaro e que deu 65% dos votos válidos no segundo turno ao atual presidente. De lá, indicam as investigações, também vem parte dos recursos que têm alimentado os atos golpistas em frente aos quartéis-generais do Exército pelo país.
O senador, que apoiou a eleição de Lula desde o primeiro turno, diz que não há motivo para o agronegócio temer o petista. Pelo contrário, ressalta. “O agro sempre foi muito bem tratado pelo presidente Lula. Não precisa gostar dele. As portas estarão sempre abertas para quem respeitar a agricultura, produzir de forma sustentável, atender aos brasileiros com farto alimento, ajudar a matar a fome e ter excedente para a vida econômica. O diálogo vai prevalecer”, afirmou.
O novo ministro entende que herdará uma situação muito mais cômoda do que os seus colegas de primeiro escalão na Esplanada, que reclamam do desmonte de políticas públicas em suas áreas.
“A Agricultura é um ministério que, em termos de gestão, vem com uma sequência de bons ministros, apesar de falta de orçamento causar danos muito graves à Embrapa, à Conab, aos estoques de alimento para combater fome. Mas isso é uma questão orçamentária”, avaliou.
Para Fávaro, a transição no Ministério da Agricultura ocorrerá sem problemas. “Vamos trabalhar com apoiadores, uma equipe de confiança nossa, com servidores, que são a grande força do ministério. Quem quiser fazer uma produção sustentável, respeitar o meio ambiente, buscar a produção com o carbono neutro, combater o desmatamento ilegal, isso tudo vai ser respaldado. As portas estarão abertas para termos uma boa linha e crescimento do agronegócio”, disse.
Carlos Fávaro tem 53 anos e nasceu no interior do Paraná. Mas foi em Mato Grosso, aonde chegou em 1986, que construiu sua trajetória como produtor rural e político. Foi vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), em 2010, e da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), de 2012 a 2014. Atualmente cursa Gestão Pública.
Também presidiu a Cooperativa Agroindustrial dos Produtores de Lucas do Rio Verde (Cooperbio Verde). Em 2014, filiado ao PP, elegeu-se vice-governador na chapa encabeçada por Pedro Taques. Durante a gestão, foi secretário estadual do Meio Ambiente. Na eleição de 2018, disputou uma vaga para o Senado, mas ficou apenas na terceira colocação.
A senadora eleita, Juíza Selma Arruda, viria a ser cassada no início de 2020, o que obrigou a realização de nova eleição para o Senado no estado. Fávaro venceu com 26% dos votos. Seu mandato é válido até 2027. Na equipe de transição, foi nomeado coordenador do Grupo Técnico de Trabalho da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Gabinete de Transição Governamental.
No final de novembro, em outra entrevista ao Congresso em Foco, na condição de um dos coordenadores do GT da Agricultura, Fávaro disse que a “parte racional” do agro já havia assimilado o resultado da eleição, tinha consciência dos limites constitucionais e não financiava atos golpistas. “As entidades de classe já estão pensando de forma objetiva. Lula é o presidente. Acabou. Eles também sabem que Lula foi o melhor presidente para o agronegócio na história do país”, afirma.
Segundo o senador, o agro não sentirá saudade de Bolsonaro, que, na avaliação do senador, pouco fez para o setor. “Queremos uma revolução com o agro 4.0, com sustentabilidade. Não dá para deixar de lado o pilar econômico, com a abertura de mercado. Mas não dá para desconectar o agro da sustentabilidade ambiental”, explica.